Há palavras cujo sentido está contido no próprio som. Quando pronunciamos «fofo» não podemos deixar de imaginar que estamos a mastigar uma almofada, que podemos ter uma asfixia de algodão de a dissermos muitas vezes seguidas. Que outro adjectivo melhor pode qualificar o som que nos sai da boca quando dizemos «ríspido», do que o próprio. Os exemplos são infinitos, especialmente se limitarmos a análise ao universo particular dos adjectivos.
E o mundo seria muito mais simples se esta lógica se estendesse a outros domínios. Por exemplo, as doenças deveriam ter todas nomes de pronunciação desagradável, palavras funestas. Isto porque há doenças que, mesmo não sendo ovelha, não podemos deixar de alimentar a esperança de vir a contrair. Scrapie é um nome demasiado brando, de animal de estimação, para que lhe dêmos importância. Disseminam-se silenciosamente e só a escrita de textos sem sentido nos pode despertar a dúvida de já a termos contraído.
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