12 janeiro 2004

Crónica terrestre: a história de duas sondas marcianas

Duas super-potências marcianas enviaram duas sondas a um planeta azul, a que chamam Terra, para recolher as primeiras imagens dessa superfície misteriosa.

A primeira sonda, de um conjunto de nações marcianas que se uniram nesse dispendioso projecto, desapareceu estranhamente. Desde a aproximação ao solo, nunca mais foi possível comunicar com o aparelho: a nave foi abatida por baterias anti-aéreas quando sobrevoava o norte de Portugal. Habitantes viram pequenas bolas de fogo que os astrónomos disseram ser pedaços de asteróides. Houve quem filmasse o fenómeno e enviasse as imagens para as televisões.

Pelo contrário, a segunda sonda marciana, do país tecnologicamente mais avançado, está a enviar mensagens há vários dias para o Planeta Vermelho: uma estação espacial de russos e americanos desviou o dito objecto para o deserto do Saara, onde está farto de recolher imagens importantíssimas, assim como preciosas amostras de areias e minerais. A sua missão está a ser um sucesso. Dizem em Marte que outrora aquele deserto fora um mar.

Esses cientistas marcianos da nação mais rica, vivem um delírio nunca visto, e há quem sonhe colonizar o arenoso planeta terrestre daqui a 200 anos. Para o povo, a aridez da Terra desfaz sonhos alimentados anos a fio: autores de ficção barata andaram anos a vender livros que descreviam uma Terra de «infinitos oceanos azuis» e «densas florestas com árvores verdes habitadas por animais esvoaçantes de todas as cores», ou a imaginar «cidades de casas altas apontadas ao céu, amontoando milhões de seres estranhos, de pêlos na cabeça e uma protuberância abaixo dos dois pequenos olhos pestanudos».

A descoberta da Terra é um grande passo para a marcianidade, dizem os marcianos... Esperem quando virem passar o Paris-Dakar...

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