Eram cinco e meia da tarde, ontem, quando subia o Chiado e me deparei com uma rapariga, frente à Brasileira, a pedir a assinatura para uma petição que defende um novo referendo ao aborto. Concordei, claro, estou do lado da causa, e até acho que somos todos, colectivamente, culpados pelo decorrer do julgamento das mulheres de Aveiro, por nem metade dos portugueses ter votado no anterior referendo.
Mas esta não é a questão.
Libertado pela activista, dirigi-me ao multibanco para um levantamento urgente, e eis que vejo Ana Gomes, do PS, ao lado de Francisco Louçã, Bloco de Esquerda, cada um a convidar o cidadão passeante para assinar a lista. Ana Gomes demonstra assim a coerência do seu estilo panfletário-estudantil, e prova desta maneira ser dos socialistas mais próximos do BE, o que também não é novidade.
Concorde-se ou não, abordar o povo fora de épocas eleitorais tem as suas virtudes. Os políticos deviam sair à rua nos fins-de-semana. Andar atrás das pessoas e arriscar que lhes virem as costas, ou depararem com a indiferença que vi Ana Gomes ser alvo, e a aceitar com dignidade.
Naquele largo onde costumam andar os artistas de rua, tinha a sua piada ver o dr. Ferro a explicar ao cidadão que passa cada uma das suas tão ocultas ideias (já que se dá tão mal com as câmaras de televisão); seria benéfico para a democracia ver a drª Manuela Ferreira Leite a esforçar-se por descodificar aos transeuntes a problemática do défice público e a necessidade da titularização dos créditos, já que no parlamento recusa discutir com deputados que não sejam economistas; ou assistir, ao lado de comuns prestidigitadores de rua, ao dr. Paulo Portas a convencer quem passa, do benefício do trabalho nas obras que esses ignominiosos imigrantes roubam...
Espelho mau, espelho mau...
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