21 abril 2004

O Radicalismo de Bakri e o Racionalismo na ponta da baioneta

É impressionante a entrevista de um alegado teórico da al-Qaeda na Europa, Omar Bakri Mohammed, a Paulo Moura, na Pública , no passado domingo. E impressiona não só pela maneira de pensar de um líder deste radicalismo islâmico: o que não falta por aí são fundamentalistas religiosos de todos os credos, completamente inofensivos. O que importa considerar é a fragilidade das democracias liberais. Estes mujahidin urbanos odeiam o nosso sistema exactamente por ser livre, odeiam portanto a liberdade e as leis feitas pelos homens - pois só reconhecem as leis de Deus -, e assim odeiam-nos a todos, acreditando que a nossa morte fará a felicidade Dele. Não estivesse já a teoria posta em prática, e isto far-nos-ia sorrir se fosse dito no dia 10 de Setembro de 2001.

Uma fragilidade das democracias liberais consiste em aceitar os inimigos no seu próprio seio. Mas esta tolerância relativa também pode ser a sua força em múltiplos aspectos. Omar Bakri dá entrevistas, participa em programas de televisão, vive em Londres. Sete alunos seus foram presos recentemente por suspeitas de estarem a preparar um atentado, enquanto ele prega a morte, mas vai cumprindo a lei britânca. Não atacará Inglaterra por ter um pacto de segurança com o país onde vive legalmente. Foi preso 16 vezes e libertado outras tantas. Lançou uma fatwa para matar John Major e continua a viver no Reino Unido. Qual o limite da tolerância democrática em relação a casos como este, que prega o islão como a religião do massacre?

Considerando este modo de pensar dos jihadistas, o proselitismo democrático como meio de combater o terrorismo pode ser uma falácia, mesmo que tivesse boas intenções genuínas. O problema do terrorismo não se resolverá militarmente, assim como não é com caçadeiras que se matam moscas. Nem com a democratização forçada do Médio Oriente. Enquanto uma revolução Iluminista não abalar o pensamento destes muçulmanos, dificilmente o jihadismo será travado. Nunca haverá democracias nos países onde Deus ainda manda nos assuntos públicos. Levaria uns anos, mas o racionalismo não se expandirá por aqueles desertos na ponta das baionetas.

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