Devemos à conjunção de um espelho e de uma enciclopédia a descoberta deste mundo. Por Vítor Matos e Tiago Araújo
16 abril 2004
O Atiçador de Wittgenstein, David Edmonds e John Eidinow (Temas e Debates, 2003)
A análise da realidade pode ser decomposta, para fins de simplificação. Um jantar entre duas pessoas, por exemplo. Podemos optar por estudar a complexa vida microscópica que se desenvolve em cima da mesa ou a própria estrutura física da mesa; a arquitectura do mobiliário; o estilo da gastronomia; o passado de cada uma das duas pessoas e do país onde tudo se desenrola; o significado do que dizem uma à outra; etc. O livro trata de um encontro entre Popper e Wittgenstein, numa conferência em Cambridge. E, se não fala da vida microscópica na sala da reunião do Clube de Ciência Moral, é bastante minucioso em praticamente tudo o resto. Mas, para mim, o seu maior problema será provavelmente o de transformar uma questão filosófica numa questão sociológica. É de leitura bastante agradável, enquanto estudo biográfico, mas submerge o encontro nas biografias. É como se tivéssemos a possibilidade de ler um relato sobre um jantar entre Platão e Aristóteles, Hobbes e Locke, Rawls e Hayek e o cronista descrevesse pormenorizadamente a refeição, das azeitonas à sobremesa, e apenas isso. Talvez a sociologia explique a animosidade entre os dois homens, mas esta é irrelevante para o problema filosófico de saber se existem genuínos problemas filosóficos.
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