07 abril 2004

A Democracia e o Iraque

Acredito na universalidade da democracia; que não existe tempo e lugar específicos para ela. É conhecido que existem determinados factores que a favorecem, como a existência de uma classe média ampla e sólida, mas não há provas de que existam regiões, religiões ou povos incompatíveis com uma qualquer forma democrática de organização política. Logo, gostaria de ver a democracia estender-se a todos lugares do planeta. Mas existem princípios políticos perfeitos cuja invocação pode tornar-se perigosa. A autodeterminação e a democracia são, na política mundial, dois dos exemplos mais expressivos. A autodeterminação, aplicada como princípio universal, resultaria em caos e mortes num mundo com muitos mais grupos étnicos e linguísticos do que estados. Da mesma forma, a imposição da democracia pode ter custos proibitivos, para quem acreditar que a vida humana deve ser um fim e não um meio, que não se podem sacrificar vidas por um fim de resultado incerto. Especialmente para quem considerar, como eu, que as vidas de ocidentais e de cidadãos de outros lugares do mundo têm o mesmo valor. Os estados democráticos devem fomentar a democracia, mas devem adoptar regras de prudência quando acharem que a sua imposição possa ter resultados contraproducentes. No Iraque morreram hoje cerca de cento e oitenta pessoas e mais morrerão nos próximos tempos. (Claro que, no caso desse país, a questão nem se põe, pois esse não foi o argumento utilizado para a invasão, mas apenas uma atenuante para o desastre.) Agora, ainda do ponto de vista da perda de vidas humanas, a retirada imediata e incondicional das tropas estrangeiras do país seria outro erro, por muito que nos custe a nós, os que sempre estivemos contra a invasão. A única solução poderá agora ser procurar construir a legitimidade que os Estados Unidos perderam em volta das Nações Unidas.

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