Voltemos de novo aos usos da dicotomia esquerda/direita. O uso que identifiquei como filosófico é mais propriamente assente num modo antropológico diferente de distinguir duas visões do homem: uma, a da bondade original, pervertida pela sociedade, ou seja, um optimismo antropológico; outra, a ideia de que a natureza selvagem do homem implica instituições assentes na ordem e na autoridade que o moderem nos seus instintos primários como condição para haver sociedade, ou seja, um pessimismo antropológico.
Pacheco Pereira, Público, 21/10/2004
Apesar de esta ser uma das distinções mais básicas entre esquerda e direita, a dicotomia tendo como ponto de partida o pessimismo/optimismo antropológico faz-me sempre sentir uma contradição. Sou assumidamente um pessimista antropológico, não penso que o homem seja naturalmente bom, antes pelo contrário, acho que transporta naturalmente os males que vemos todos os dias, e considero-me, ao mesmo tempo, de esquerda. Devo consultar um psicólogo? Talvez um politólogo? Não. O mundo é cada vez mais complexo, e as escolhas menos baseadas neste radicalismo (no sentido de raiz). Se a História ainda não acabou, pelo menos as fronteiras estão muito esbatidas para o Último Homem.
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