30 outubro 2004

O pára-ratos

O velhote da loja de sementes hortícolas do Cais do Sodré pôs a ratoeira metálica em cima da mesa. "Isto tem uma força parva, quer ver?", explicou-me, enquanto armava a armadilha. Depois tocou-lhe com uma caneta e, numa fracção se segundo, a Bic azul ficou desfeita em mil pedaços espalhados pelo estabelecimento. "Até corta ratazanas ao meio", disse, e fez um gesto com a mão. Pensei no rato decepado em duas partes, a sangrar no meu quarto de vestir, e não gostei. "Mas tem aqui este produto, talvez seja melhor". E trouxe uma caixinha amarela com este dizer: "Pára-ratos". Um pântano movível, uma cola que se espalha numa folhiha de papel em volta de um isco de queijo, onde eles ficam presos: eh-eh, apanhá-lo vivo...

(Ladies and gentlemen, we got him! Ainda não tinha acabado de postar este post, e aparece a Carla aos gritos: "O bicho está ali preso a mexer-se!" Sim, o nosso prisioneiro, vivinho da Silva, imediatamente sepultado no lixo em lenta agonia, prensado entre duas folhas de papel cheias de cola e cinco pedaços de queijo. Paz à sua alma.)

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