22 outubro 2004

Kerry igual a Bush: a lavagem cerebral que me fizeram

Durante uma semana em Washington, think-tankers, um senador republicano e um congressista democrata, assim como membros da administração (estes é que não é de estranhar), tentaram convencer-nos (a mim e a outros camaradas de profissão) de que, apesar de toda a retórica, a política externa de Kerry não será muito diferente da de Bush, caso vença as eleições no dia 2 de Novembro.
No fim de contas saí de lá quase convencido, porque estes argumentos não são irrealistas:

a) No início do mandato, Kerry fará uma viagem aos países da velha Europa para recompor as antigas amizades;
b) Mas esperará que os aliados, em troca pela simpatia, disponibilizem umas tropas para o Afeganistão e para o Iraque (sobretudo para o Iraque), de modo a aliviar o contingente norte-americano;
c) Os europeus hão-de sorrir ao lado de Kerry, mas tropas é que não. A maioria dos políticos não gosta de pôr a cabeça no cepo por causa de meras simpatias (e Kerry é bem mais simpático do que Bush); depois há um défice para cumprir porque Bruxelas está vigilante e militares no estrangeiros são caros. Mais: cada soldado europeu morto tem mais custos políticos do que um americano. E se a Europa mandar tropas não serão as suficientes.
d) Se ao fim de três ou quatro meses Kerry não tiver respostas satisfatórias de países como Alemanha, França e Espanha, regressará ao orgulhosamente sós;
e) O sr. Chirac deve estar a torcer para o sr. Dabliú continuar onde está, que é para não ter de mover uma palha;
f) John Kerry nunca afastou a possibilidade de poder fazer ataques preventivos;
g) O democrata farta-se de falar no Irão e das armas nucleares. Se se concluir que o Irão as possui e os europeus não se chegarem à frente, então corremos o risco de ter uma nova situação como o Iraque (dizem eles que é preferível serem os EUA a intervir, para prevenir qualquer acção de Israel que incendiaria a região);
h) É preciso não esquecer que o trauma do 11 de Setembro ainda está fresco na cabeça dos americanos;
i) Todas as acções de Kerry seriam embrulhadas num papel mais multilateral do que as de Bush, mas os resultados não seriam diferentes, caso as organizações internacionais não dessem o aval às intenções norte-americanas.

Apesar de este ser um cenário possível, era preferível que não fosse assim.

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