26 outubro 2004

No espaço político o que interessa são as ideias e não a origem das ideias. É irrelevante se se fundam na religião, na ideologia ou na razão pura. O problema com a nomeação de Rocco Buttiglione para comissário da Justiça, Liberdade e Segurança não é a base católica das suas ideias acerca da homossexualidade e do papel da mulher na sociedade, mas as ideias em si mesmas. Se fosse proposto para comissário da agricultura, nenhum eurodeputado se lembraria de lhe perguntar as suas opiniões sobre esses assuntos. Mas, nessa pasta, espera-se que promova medidas relacionadas, por exemplo, com a igualdade de oportunidades entre os sexos no acesso ao emprego e a não discriminação com base na orientação sexual. Buttiglione está provavelmente a ser sincero quando afirma aceitar a distinção entre as leis da religião e as leis dos estados, que não é favorável à criminalização do pecado. Mas não será provavelmente também o promotor mais enérgico daquelas medidas. Não é obrigatório que os grupos políticos do Parlamento Europeu rejeitem o nome do comissário; não me parece que haja motivo para indignação e acusações de perseguição que coloquem a hipótese de o fazer. As ideias não podem ser rejeitadas por terem uma base religiosa; não podem ser aceites simplesmente por a terem.

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