"Ele era um homem realmente gentil, ensinava miúdos realmente mauzinhos e todos gostavam dele", disse uma das crianças de Hillside ao Guardian. Um dos pais, falando à BBC à porta da escola de Hillside, disse que Khan "era um bom homem". "Quando contei à minha filha que ele era um dos bombistas ela não acreditou. Tive de comprar um jornal e mostrar-lhe". in Público de sexta-feira, dia 15 de Julho. Depoimento sobre um dos bombistas londrinos
Já vi gente indignada com estas descrições sobre os terroristas, mas o problema não é novo. Ouvi um colega a argumentar que estes filhos da puta são filhos da puta sobre os quais todos se deviam recusar a fazer descrições simpáticas. Mas temo que as coisas sejam um pouco mais complicadas. Aqueles que praticam o mal contemporâneo, mesmo o mal mais profundo, não andam por aí como demónios, de chifres e cauda. Antes pelo contrário.
O livro Eichmann em Jerusalém, de Arendt coloca o mesmo problema, entre o mal e a malícia, embora no caso dos terroristas islâmicos a questão da intencionalidade seja bastante clara. Depois de analisado por um grupo de psicólogos e psiquiatras, Eichmann, um dos arquitectos das Solução Final, foi considerado absolutamete normal, assustadoramente normal, um pai de família comum. Isto é que é assustador.
Arendt entendia o tribunal se devia ter dirigido a Eichmann assim:
"Estamos apenas preocupados com o que você fez, e não com a possível natureza não criminosa da sua vida interior e dos seus motivos, ou com as potencialidades criminosas dos que o rodearam".
Há muito tempo que devíamos saber que homens gentis são capazes das maiores barbaridades.
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