14 maio 2005

O Fundamentalista medieval

«Matar uma pessoa no seio materno é mais grave do que matar uma pessoa que não se pode defender. Uma menina de cinco anos pode reagir, pode chorar, queixar-se»", disse à TSF o padre do Lordelo, Domingos Oliveira, assumindo assim o que já tinha afirmado na homilia da missa de sétimo dia em nome da Vanessa, a menina assassinada por familiares no Porto.

Se o Papa Bento XVI é um homem contra os relativismos modernos, que diria ele do relativismo medieval defendido por este obscuro padre? Mais vale um homicídio tardio que um aborto precoce? Um homem que diz isto numa casa onde há quem acredite haver uma presença Deus está do lado do bem ou do lado do mal?

Qual a diferença entre o padre Domingos e os apedrejadores de mulheres islâmicos? O que fará a hierarquia da Igreja em relação a ele? Com que consolo saíram daquela missa as almas dos familiares da criança? As palavras do padre Domingos são um segundo crime contra aquela criança: a profanação de uma alma inocente.

5 comentários:

Anónimo disse...

Pelos comentários que ouvi de toda a parte posso concluir que o desequilíbrio mental ainda não apanhou a sociedade portuguesa. Resta lamentar as declarações do Sr. padre e esperar que a Igreja afaste do pulpito alguém com tamanhas responsabilidades na formação do espírito das gentes de Lordelo.

PS

nocturnidade disse...

a hipócrisia imperará indefinidamente.

é pena.

Anónimo disse...

Todas estas palavras deixam-me com a certeza que algo não vai bem com esta sociedade. Ao ouvir as opiniões de uns e de outro, pergunto-me a mim mesmo se estará alguém a usar a razão naquilo que diz ou se apenas se decidiu dar voz à inquietação que sobressalta da alma de cada um.
De um lado, o Padre de Lordelo, que longe do politicamente incorrecto, mostrou antes uma falta de sensibilidade (e presença de espírito) extrema. Errou no tempo e no modo como quis marcar a sua posição. Do outro, os indignados da sociedade... A estes, sinceramente, não consegui ainda perceber a causa da indignação. Terá sido pelas circunstâncias em que o disse? Será por o clérigo ter dado a entender que é pior morrer uma criança no seio da mãe do que uma criança de cinco anos? Terá sido por ter tido a ousadia de considerar que um bébé no seio materno é realmente um bébé? Qual destas razões (ou outras...) terá causado a indignação de cada um?
Tudo me leva crer que não terá sido pela primeira razão que apontei. Pelo menos, na maioria dos indignados. A esses gostava de deixar aqui as seguintes questões: Qual é a diferença entre a morte de um adulto e a de uma criança? Qual a diferença entre a morte de uma criança de 5 anos e a de um bébé de 6 meses? E depois de responderem com a razão a estas questões, tentem aplicar a vossa resposta a esta derradeira questão: qual será a diferença entre a morte de um bébé no seio materno e a de um adulto? Apenas um testemunho para aqueles que nunca ouviram o coração do seu filho a bater e as suas pequenas mãos a dizer adeus enquanto se aconchegam dentro do ventre da sua mãe: um bébé com 12 semanas através de uma máquina de ecografia parece mesmo um bébé...

Anónimo disse...

Eu nem sequer já discuto a questão em si... Gostaria apenas de saber o que é que o Vítor Hermes entende por "fundamentalismo medieval"? O que é que a Idade Média tem a ver com esta historiazinha sem importância? Os lugares-comuns são deprimentes... Ando a reler sobre a história do século XX, particularmente o contexto da Shoah e não percebo a razão de recuarmos mil anos para falar em "idade das trevas" ou "fundamentalismo medieval". Se calhar o Vítor tem algum problema mal resolvido com a Idade Média ou com o latim...

Anónimo disse...

Boa noite,

é o fim da civilização tal como a conhecemos! É o caminho inexorável para a decadência da espécie humana; aquilo que durante séculos foi posto à prova e ratificado pelas sociedades, ou seja os costumes, a moral, o que é correcto ou o que é incorrecto, o conceito de bem e de mal, tudo isto está definitavamente perdido devido a esses "racionalistas" seguros da sua razão suprema, impuseram a relatividade na moral, o bem ou mal deixou de ser algo perceptível por todos. E o aborto a pedido da Mãe é o sinal maior dessa decadência!
Os alemães, ingleses, dinamarqueses, espanhóis, belgas, holandeses, a lista de países ditos desenvolvidos e com sociedades com níveis culturais e educacionais claramente mais elevados do que o nosso não parava, estão todos em decadência moral? Ou perderam completamente o tino? A resposta óbvia é que não? Ou será que Portugal já deu a volta, ou seja todos estes países vão caminhar para a penalização do aborto em qualquer circunstância em defesa da vida humana? Não é um paradoxo que países que estão na linha da frente na ajuda aos países não desenvolvidos permitam a "morte" de crianças nos fetos? Ou será que estas sociedades perceberam que as mulheres violadas têm o direiro a não ter um filho indesejado? Ou que por ter falhado o método contraceptivo se sintam no direito de não ter um filho indesejado fazendo aborto nas primeiras semanas de gestação? Quem é que vai obrigar estas senhoras a ter filhos que não desejam? Ou até ter filhos que vão à partida ter deficiências? A resposta normalmente dada pelos defensores da "vida" está em regra colada à resposta católica: "são todos filhos de Deus". São os mesmos que defendem que a educação sexual deve ser feita dentro da família. Desculpem mas já perguntaram às vossas colegas quantes vezes as mães delas lhes falaram de sexualidade em sentido lato. Desde os cuidados a ter nas relações, os métodos, os princípios de uma educação sexual saudável? A resposta que vão obter na maioria dos casos é que as mães nunca ou raramente lhes falaram do assunto. E se falaram foi sempre de modo a dizer-lhes que não se atrevessem a aparecer grávidas. Pedagógico não é? Para não afirmarem que não respondo à questão que o Afonso coloca, respondo que não! Não é crime fazer um aborto a pedido da mãe nas primeiras semanas de vida, e essa fronteira deve ser claramente posta a discussão em referendo. Porquê? Porque existe a percepção que a sociedade não vê este acto como crime. Será um acto com base na racionalidade do séc XXI? Decadente? Relativismo moral? Assim seja.

Cpms

PS