12 maio 2005

Abater sobreiros: o crime de traição à pátria de Nobre Guedes e Costa Neves



Quando no fim do Verão o meu avô Hermes me oferecia uma nota de cinco contos, era porque tinha vendido a cortiça lá do brejo. Toda a vida olhei para os sobreiros com respeito, sinal de riqueza e posses na terra de onde venho. Os homens destas fotografias tiradas em 2002 na Serra de Grândola ganham 16 contos por dia na recolha do petróleo alentejano. Toda a gente ganha alguma coisa, neste negócio. A produção portuguesa de cortiça domina o mercado mundial, mas não chega para todas as encomendas. O bem é escasso para uma produção mundial cada vez maior de garrafas de vinho a precisarem de ser rolhadas...

Por isso fico tão irritado quando me abatem os chaparros, é uma coisa de pele. Este caso da Portucale em Benavente deixa-me danado, e não é só por causa da falta de sombra para bater umas sornas: um ministro do ambiente (Nobre Guedes) e outro da Agricultura (Costa Neves) a mandarem abater mais de dois mil sobreiros para fazerem um empreendimento turístico só mostra que ainda não ultrapassámos o velho modelo de (sub)desenvolvimento. Se dantes era só betão, agora é betão mais relva para o golfe. O Grupo Espírito Santo fez um comunicado ridículo a dizer que tinha plantado cinco mil sobreiros noutro local. Só que desses, poucos vingarão. E a primeira tirada de cortiça virgem é feita só aos primeiros 40 ou 50 anos da árvore. E a segunda tirada aos 60 anos ainda não é da maior qualidade. Não é preciso haver tráfico de influências para eles serem culpados de um crime lesa-pátria.

2 comentários:

Bruno Ramos disse...

Concordo em absoluto contigo e senti o mesmo. A facilidade com que se arrancaram aquelas árvores é absolutamente criminosa e nojenta

Anónimo disse...

Caro amigo,

a provarem-se as acusações a pena mínima era o ostracismo. No entanto receio que nesta nossa terra o tempo e "areia" tapem a "porcaria" e o crime passe impune. Resta a esperança por um mundo melhor.

Abraço,

PS