26 maio 2005

António das Pêgas, o manageiro



A este veterano do montado, de olho azul e 72 anos, chamam-lhe António das Pêgas. É manageiro para os lados de Santiago do Cacém, o que significa comandar um rancho de homens e mulheres que fazem trabalho sazonal para os lavradores lá da zona. Aqui apanhei-o a beber pelo cocharro, durante uma tirada de cortiça serrana, para os lados das Vendas do Roncão. Vê-se pela maneira como olha a objectiva que é um tipo vaidoso, do género velho gaiteiro. Meneia as ancas como o John Wayne, mas no lugar da pistola leva um machadinho.

O ofício exige saber popular misturado com ditâmes de Bruxelas: ao lado da machada transporta uma corda com os centímetros exactos do diâmetro legal mínimo do tronco dos sobreiros que tiram a primeira cortiça virgem. Abraça um chaparrinho com o cordel e diz este já pode ser. Depois toca num frondoso com a palma da mão e conclui que foi maltratado numa época antiga, por tiradores brutos, sem sensibilidade no machadar, que feriram a carne da árvore em dia de chuva. É preciso muito ouvido para sentir a lâmina entrar sem castigar o tronco. O prémio do bom tirador - para além do prémio do fim do dia, os dezasseis contos da jorna -, é quando a cortiça "arrota" ao descolar do tronco num canudo perfeitinho, a bela prancha que há-de dar com que enrolhar uma pinga da melhor.

O António das Pêgas não havia de gostar de saber dos conluios entre os nossos governantes e os interesses privados para abater sobreiros em troca de campos de golfe. Ele não teria jeito para caddy, mesmo com aquele menear de ancas à cowboy.

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