18 maio 2005

O défice de felicidade e as contas públicas

Grande novidade, o défice das contas públicas portuguesas é preocupante: chegará aos sete por cento? Depois da derrota do Sporting e da expectativa em torno do Boavista-Benfica, é esta a maior preocupação do nosso honesto povo. Contabilizamos o nosso desenvolvimento a partir de dados absolutamente mensuráveis, mas eu cá, nos dias de total irresponsabilidade, estou-me nas tintas para o défice.

Há coisas na vida que não se medem. Um dia perguntei a um historiador estrangeiro, que tinha escrito um livro sobre o desenvolvimento das nações, se ele sabia se as pessoas eram mais ou menos felizes antigamente, quando eram mais pobres e menos desenvolvidas, ou hoje, rodeadas de tecnologia. Ora ele encolheu os ombros e disse que não fazia ideia. Tinha escrito no dito livro que a felicidade era um subproduto do desenvolvimento.

Ora, vamos lá teorizar um bocadinho sobre isto: um povo que canta fado mas nunca ganhou o festival da canção, que foi à final do Euro e perdeu logo com os gregos, que vai aos magotes pagar promessas a Fátima agradecendo qualquer ponta de felicidade como um favor da divina providência, que bate recordes de boletins do euromilhões na esperança de enriquecer, e que consome cada vez mais antidepressivos, precisa de muito mais que de ultrapassar o défice.

O défice está no meio de nós, omnipresente, a escutar atrás das portas e tolher-nos os movimentos porque não estamos contentes porque não somos felizes e não somos felizes porque não estamos contentes. Nós somos o défice. Erradicá-lo era como deitar os Jerónimos a baixo. Não podíamos ser pobres e desgovernados, até tolos, mas ao mesmo tempo evoluirmos nos critérios de convergência da máxima felicidade?

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