Nas velhas fotografias de família há sempre um primo afastado com um dedo no nariz ou uma roupa hilariante e que raramente é convidado para os churrascos no quintal. Com o passar dos anos vai sendo progressivamente esquecido e a única prova da sua existência é a própria fotografia amarelecida no fundo do baú. No Livro III da Geografia Estrabão descreve os Lusitanos e reveste de sentimentos contraditórios o sentido de orgulho pelos antepassados.
Dizem dos lusitanos que são hábeis nas emboscadas e explorações, vivos, usam armamento ligeiro, e são astutos nas manobras. Têm um escudo pequeno de dois pés de diâmetro, côncavo pela frente e seguro por correias pelo que não leva braçadeira nem pega, e transportam além disso um punhal ou uma faca. A maioria veste cotas de linho, são raros os que as usam de malha e cascos com três penachos, e os restantes, cascos de nervos. Os que andam a pé usam grevas e carregam vários dardos cada um. Alguns usam também lanças, cujas pontas são de bronze. Diz-se de alguns dos que habitam nas imediações do rio Douro que levam um modo de vida lacónico, que utilizam duas vezes ao dia os aliptérios [locais onde se untavam de gordura antes dos exercícios], tomam banhos de vapor que se desprende de pedras incandescentes, banham-se em água fria e fazem apenas uma refeição por dia, com limpeza e sobriedade. Os lusitanos são dados a sacrifícios e examinam as entranhas sem separá-las do corpo; fixam-se ainda nas veias das costas e adivinham palpando. Fazem também previsões pelas entranhas dos seus prisioneiros de guerra, a quem cobrem de saios. Assim, quando são feridos pelo arúspide [sacerdote] nas entranhas, adivinham em primeiro lugar pela forma como tombam. Cortam as mãos aos prisioneiros e consagram as direitas. [Geografia, III, 3, 6; traduzido de uma edição espanhola]
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