04 fevereiro 2005

Debate: não errar é uma virtude que sabe a pouco

Quando as coisas andam tão mal na política, um debate onde nenhum dos candidatos comete um erro grave já é uma vitória. Mas que não deixa de ser anódina. Se o fiel da balança eleitoral vão ser os indecisos, então este frente-a-frente de pouco serviu: José Sócrates estava demasiado tenso e não explicou o "como" das suas principais propostas, mas teve um discurso mais objectivo; Santana Lopes não conseguiu passar a ideia de que tinha um programa articulado para o país - foram poucas as ideias que me ficaram na memória -, e embrulhou-se demasiadas vezes numa retórica pouco clara.

A clivagem esquerda/direita também esteve tão esbatida que Sócrates até teve de dizer "eu sou socialista" (faltou-lhe o "até"), enquanto Santana mostrou um liberalismo inesperado sobre questões civilizacionais, ao admitir a eutanásia em certos casos e o aprofundamento das leis das uniões de facto.

A maior surpresa do debate foi mesmo Santana Lopes: tendo em conta os últimos meses, o facto de não ter cometido qualquer deslize grave já foi muito positivo (apesar do contorcionismo na conversa dos colos). A contenção de Sócrates à espera que o adversário se espalhasse desta vez não funcionou. Santana, por mais gelatinoso que seja politicamente, ainda não esqueceu o que sabe de televisão.

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