Olho para cima. Na fachada do edifício estende-se o cartaz imenso daquela campanha publicitária que se repete há três Invernos, para coincidir com o Natal: "Adopte uma pessoa abandonada. Ofereça uma vida." Entro. Respondo a um questionário ao computador. Tenho o perfil indicado. Quando chega a minha vez, uma mulher de branco conduz-me pelos corredores até aos aposentos. "Esta semana tem sido uma loucura, levaram-nos quase tudo, são boas prendas, sabe..." Pois, penso eu, ao preço que estão as coisas... Ela abre a última porta e deixa-me em frente a uma fila de quartos com portas de vidro. "Pronto, pode escolher, já só temos estes quatro, mas daqui a uns dias devemos ter mais. Quando quiser, chame".
Perco-me tempos sem fim a andar de um lado para o outro diante das pequenas celas. Havia uma namorada abandonada a chorar sentada de cócoras a um canto. Um ministro remodelado a redigir decretos para não perder o jeito. Um velho sentado na cama, de bengala na mão, como se estivesse num banco de jardim. E uma menina encontrada num hipermercado, não reclamada pelos pais, a jogar num telemóvel. Escolhi o ministro. Mandei entregar dali a três dias e paguei o transporte. Fica bem na minha secretária, bem penteado e com a sua gravata, tem lá muito com que escrever despachos, faz-me companhia a beber um uísque ao serão e a minha mulher acha o máximo ter gente importante lá em casa.
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