Cheguei! A Joana está mais velha (parabéns mais uma vez!), acompanhando o envelhecimento da fotografia lá de casa, e eu sem poder assisitir ao vivo à transmutação etária anual da minha amiga, e sem ter comido a parte que me cabia no bolo que foi chocolate... Para o ano cá estaremos.
Primeira impressão à chegada: o país está igual, o aeroporto também, só nos jornais se nota que o Santana já é primeiro-ministro. Está muito calor em Lisboa, quase tanto como ontem à noite junto ao Grande Canal em Veneza, pelo que daqui se infere que é verdade a berlusconização da vida portuguesa: quando a temperatura política sobe demais, mau sinal para todos nós. É divertido mas não é bom.
Última impressão à saída: por que viajamos nós? Entro no avião, sento-me, fasten my seat belt, alimento-me de sandes que a TAP agora faz o favor de proporcionar aos que viajam em turística, e recordo as parte do livro Cartas de Veneza, do australiano Robert Dessaix (Ed. Gótica, 2002), em que os personagem se interrogavam sobre o que os levava a viajar. A propósito, é um belo livro para se ler numa viagem, sobretudo se tiver uma paragem em Veneza. É uma sensação de proximidade com o autor olhar para as mesmas coisas que os personagens.
Mas sobre as viagens, dizia o Professor Eschebaum, de Dessaix: "Na verdade, um em cada dois livros que lemos é sobre um qualquer tipo de viagem, não é? E estamos constantemente a falar de caminhos da vida... trilhos, estradas, progresso, etapas e por aí fora... tudo metáforas relacionadas com o viajar, se pensarmos bem nisso".
O narrador, que escrevia as cartas em Veneza, tocava num ponto ainda mais essencial, que mais tarde ou mais cedo todos sentimos, quando o cansaço nos abate: "A verdade é que não há muito que fazer em Veneza, excepto ver. não se vem aqui para fazer o que quer que seja, mas simplesmente para ver coisas. Assim são as viagens modernas. Cheias de movimento, mas nada acontece verdadeiramente. Começo a ansiar por outro tipo de viagem".
Se gastamos todo o dinheiro que poupamos em viagens, não será apenas para ver, mas também para aprender, para viver, para nos sentirmos mais vivos, para encontrarmos "sabedoria e êxtase", também escreveu Dessaix, citando Paul Bowles. E pela procura de um certo encantamento.
Pela minha parte, esta viagem aos Balcãs ajudou-me a encontrar mais uma justificação: viajar ajuda-nos sobretudo a encontrar e a perceber o nosso lugar no mundo. Essa evidência tornou-se quase palpável enquanto passava por bairros residenciais na Bósnia ou na Croácia e via as marcas das balas nas casas onde estava roupa estendida na janela.
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