19 julho 2004

Guido, o dálmata português

Split. Croácia. Guido apareceu-nos estávamos a descansar no pátio da casa-museu do famoso escultor croata, Ivan Mestrovitć, na zona alta e antiga de Zagreb. Estão a falar português, percebi, disse-nos antes de mais. E dirigiu-se-nos em espanhol. Alto, magro, de olhos azuis, e cabelos grisalhos, um misto de marinheiro, estudioso e viajante mediterrânico, garantiu que há quinhentos anos a sua família tinha vindo de Portugal, embora sem ter explicado porquê. Depois, este professor de história de arte que fora director daquele museu durante alguns anos, contou-nos esta curiosa história: Na sua terra Natal, Split (onde escrevo num pequeno ciber-café, apesar de a Carla questionar que necessidade tenho eu de vir escrever em férias), mantém-se a tradição de queimar os barcos que são abatidos: depois, parte das cinzas são atiradas ao mar, enquanto outra parte vai num porte, para o barco novo do mesmo proprietário. E a família de Guido tinha um barco. E não só a família tem antepassados portugueses, como parece que o próprio barco era de origem lusa, provavelmente de Lisboa. Quando resolveram comprar uma embarcação nova, queimaram a antiga, cumprindo a tradição na Dalmácia. E dividiram as cinzas. Uma parte foi para um pote, colocada como se num altar no barco novo; e a outra parte viajou, por vontade de Guido, até Lisboa, na bagagem do Presidente da Croácia, em 1998. O Presidente (decerto amigo de Guido, mas não entramos nesses pormenores), de oficial visita a Lisboa durante a Expo'98, transportou as cinzas com a missão de as devolver ao Rio Tejo. Tarefa que terá desempenhado com solenidade, quem sabe, porque Guido também não explicou muito mais, durante a nossa breve conversa. Guido, o académico dálmata, nunca foi a Portugal a procura das suas raízes, mas uma tia esteve em Lisboa e disse-lhe que era a cidade mais bela que já tinha visto.
 
Tiago, corrige-me por favor este texto, que o teclado croata obrigou-me a assassinar o português. 

 (Da cidade mais bela de todas as visitadas pela tia do Guido, já corrigi as faltas. Achava melhor ter deixado o texto como estava: mais exótico, com as dificuldades das férias em viagem por lugares afastados do quotidiano; mas cumpri o pedido. Boa viagem. Tiago Araújo)

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