Split. Croácia. Como um golpe de Estado é uma coisa que dá muito trabalho e comporta os seus riscos, resolvi não emigrar, mas exilar-me durante algum tempo. Quinze dias, de Veneza a Dubrovnic, ao longo de toda a Croácia, passando por Sarajevo e Mostar, na Bosnia-Herzebžgovina, tornou-se num suave e breve exílio para quem vê a pátria nesta estranha situação. A escolha do itinerário foi inocente, mas agora deixou de o ser, porque, ao tomar consciência do que sofreram recentemente estes povos mediterrânicos como nós, ganha-se alento para voltar a um país que está como está. Se eles recuperaram assim, pelo menos aparentemente, de uma guerra como foi a guerra na Jugoslávia espartilhada, também Portugal sobreviverá aos santanistas e às santanettes.
Split, na zona antiga, é um misto de cidade romana, com o palácio de Diocleciano a dominar tudo o resto, de cidade medieval, e de centro renascentista dominado por Veneza. Como devem calcular é um lugar belo, apesar do excesso de esplanadas (eles têm-nas a mais, enquanto nós as temos a menos), e do excesso de turistas, como eu, aliás.
Nunca tinha ido a Veneza. Trago de lá a maior vontade de regressar, de preferência no Inverno, com poucos turistas, para explorar a história e os significados de um lugar singular.
Zabreb é uma capital estranhamente calma, pelo que percebemos, com gente profundamente religiosa. Numa das portas da cidade antiga, um fresco da virgem com o menino, que sobreviveu a um incêndio no sec. XVIII, e adorada por quase toda a gente que passa: jovens, velhos, homens, mulheres, quase todos se benzem; uma boa parte faz uma pequena oração antes de prosseguir; e alguns ficam ali alguns minutos a rezar. Não deixa de ser impressionante num pais católico, até porque os católicos não são de mostrar assim tão em público a sua religião. Fez-me lembrar os muçulmanos nos países muçulmanos. Mas a religião define a Croácia, assim como a Sérvia ou a Bósnia, é preciso não esquecer estas estranhas fronteiras (estranhas quando observadas por um português). Disseram-nos várias vezes: "como é que foram perder com os gregos? Toda a Croácia estava a torcer por vocês". Claro, nós somos os irmãos católicos, e os gregos os inimigos ortodoxos. E claro que estas coisas são sempre muito mais complicadas do que parecem.
Está um sol fabuloso e hoje vamos voltar a gozar (eu, a Carla, o Afonso e a Blandina), um belo dia de praia sobre as rochas dálmatas suavemente banhadas pelas calmas e cálidas águas adriáticas.
Tiago, por favor, põe-me os acentos e as cedilhas nisto.
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