20 abril 2005

Zita, missão abortiva

Marques Mendes cometeu hoje o seu primeiro erro, ao pôr Zita Seabra a discursar contra o aborto no Parlamento. A não ser pelo mais puro cinismo de se resguardar a si mesmo e aos seus, não era de esperar que um parlamentar tão experiente lançasse para o campo da batalha a mesma pessoa que tinha andado aos tiros do outro lado da trincheira, quando a disputa era a mesma. Foi ridículo ouvir Zita Seabra defender o contrário do que tinha dito há anos, naquele mesmo lugar. Transformou-se em saco de boxe. Era previsível.

Mendes venceu o Congresso do PSD defendendo que o partido tinha de ser credível; mas Zita nunca teria credibilidade nem podia ser levada a sério numa situação destas. Um tiro. um melro.

A outra irresponsabilidade, para não dizer má fé, é o PS lançar o tema do referendo ao aborto neste momento, sabendo que Jorge Sampaio mal tem margem no calendário para o convocar, e que o PSD não aprovará a simultaneidade do referendo europeu com as autárquicas se a consulta ao aborto for a primeira. Caso o referendo for em Julho, como obriga o facto de haver autárquicas em Outubro, a participação será baixa, já se sabe. Com tão pouco tempo de preparação, a discussão será fraca e pouco séria, já se sabe. As vítimas continuarão a ser as mesmas, as mulheres, claro, já se sabe. A falta de honestidade intelectual neste país não tem emenda...

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