28 janeiro 2005

Entrada no meu bloco de notas Journal de Bord, com o Corto Maltese na capa, minha companhia sempre que me considero em viagem:

"26SET04 - Washington DC, Museu do Holocausto

Aqui à minha frente estão os beliches de madeira que dizem ser os de Auschwitz, onde se deitaram tantos milhares de pessoas destinadas a morrer a seguir, como carneiros. Em carneirada para o matadouro, lentos, cruzaram aquelas portas de madeira, ali, as que explicam na legenda ser as do Bloco: os homens e as mulheres, e as crianças. Todos inocentes até do facto de estarem vivos, o seu único crime. Enquanto escrevo, oiço as vozes que ecoam com os relatos dos sobreviventes. O que mais me impressiona: os objectos pessoais desalmados, o mar de sapatos desirmanados, o monte de malas de viagem cada uma com um nome, e a um nome corresponde alguém, e em cada objecto está um eu. E os cabelos... Pior de tudo: as experiências laboratoriais, filmadas pelos nazis, que vemos numas televisões colocadas num fosso, para as crianças não conseguirem olhar. A frieza da morte. A banalidade de tudo aquilo, uma profunda náusea. Tanta gente..."

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