Devemos à conjunção de um espelho e de uma enciclopédia a descoberta deste mundo. Por Vítor Matos e Tiago Araújo
09 março 2004
Lugones
Há muito que Fernando Pessoa nos ensinou que alguns escritores criam os seus próprios mestres. Ao lermos os contos de Leopoldo Lugones, não podemos deixar de imaginar se Jorge Luis Borges não terá, também ele, criado o seu. Uma criação que os milhares de discípulos borgianos, anónimos nas suas profissões quotidianas, terão encoberto com a inclusão de biografias em enciclopédias e de recensões em revistas de literatura. Nelas, fala-se de um argentino, nascido em Rio Seco em 1874, que terá ajudado a renovar a poesia hispano-americana. Existirão provavelmente também fotografias e relatos de familiares, mas afirmo que Lugones nunca terá existido para além de Borges. Digo isto convictamente, após ter lido «Os Cavalos de Abdera», um livro de oito contos publicado, em Portugal, pela Vega (1988), onde em todas as linhas se pode pressentir Borges. Num dos contos, o terceiro, inserido entre «A Chuva de Fogo» e «A Estátua de Sal», Borges terá dado uma pista para resolvermos o mistério, que só quem não reconhecer o seu génio poderá pensar tratar-se de um erro. O conto é intitulado «Um Arquitecto no Deserto» e é a história de um homem que constrói uma pequena cidade de areia, destruída a cada ano pelos ventos sazonais. A pista para conhecer a verdadeira identidade do autor do conto pode ser encontrada logo na primeira página.
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