11 janeiro 2007

Três anos... é algum tempo!

Como nos casamentos, convém de vez em quando refazer os votos. Este blogue, meus amigos, fez antes de ontem três anitos. Para que os votos se renovem, aqui se reposta o texto inaugural de Através dos Espelhos. Aproveitando a ocasião, e parecendo que o tempo é circular, inaugurei hoje, com o João Cândido Silva, outro blogue, o Elevador da Bica. Não, não deixarei de escrever aqui, para infelicidade dos meus amigos, mas fá-lo-ei num registo mais aproximado da prosa do quotidiano do Tiago (aproximado, sim, porque eu não sei escrever bem como ele), e os assuntos mais políticos e de comentário ficam para o elevador. Continuem a aparecer porque nós continuaremos os nossos reflexos.

09 Janeiro 2004
Primeiro reflexo

O espelho é um objecto estranho. Por reflectir a realidade, e sobre ela, mas não ser a própria realidade, abre infinitas possibilidades de distorção. Por isso, neste blogue, teremos por vezes uma realidade convexa ou côncava. Basta dobrarmos ligeiramente a superfície, mais por motivos estéticos do que ideológicos. Não para distorcer a realidade, mas para construir outras representações dela. A sensação poderá ser, para quem lê, a de caminhar pelo meio das galerias de espelhos dos parques de diversões, onde nós e tudo o resto que as atravessa passa do grotesco ao ridículo com um passo, do semelhante ao desigual. Também gostamos do jogo de distorcer pessoas, devolvendo-lhes depois os rostos intactos. Os espelhos têm ainda outra característica, que não escapa a todos que se debruçam sobre eles*: a profundidade. Se nos aproximarmos, parece que podemos cair para o outro lado. Neste blogue seremos seres intermédios entre Giordano Bruno e Alice: acreditamos na infinidade dos mundos e usamos os espelhos para entrar neles.

No mundo da política, da sociedade, da cultura, da ciência. Entramos e tudo nos é estranho. Contamos o que vemos. Regressamos aparentemente iguais. Depois ardemos todas as noites nas fogueiras ateadas com as folhas escritas. E espelhos somos nós também, porque reflectimos as realidades conforme a nossa superfície foi sendo talhada: não pronunciamos verdades absolutas, que não as temos, mas aquelas que o nosso espelho de água devolve aos que se miram em nós, como o lago que chorou a morte de Narciso porque se reflectia nos olhos do jovem enquanto ele admirava o seu próprio reflexo. É através de um falacioso espelho de feira - a maneira de cada um de nós ver o mundo -, que aqui projectamos a imagem que temos dele. Sejam bem-vindos

Tiago Araújo/Vítor Hermes

*Como Umberto Eco (Sobre os Espelhos e Outros Ensaios ,Difel) ou Jorge Luis Borges (Obras Completas, Teorema).

2 comentários:

Tiago Araújo disse...

O teu outro estabelecimento já entrou directamente para os links, sem passar pela casa de partida.
Queria pô-lo a negrito, mas ainda não desenvolvi as capacidades técnicas necessárias.

Anónimo disse...

Parabéns! E muitos anos de vida...