12 setembro 2005

É sabido que uma boa parte dos grandes escritores do passado passou pela prisão em alguma altura da vida. E nem todos injustamente. Alguns escreveram mesmo as obras que os celebrizaram em celas frias e húmidas percorridas por insectos, com traças a rodearem a chama da vela e o resto das tretas que costumamos associar ao encarceramento no nosso imaginário. Este dado não prova a existência de uma relação entre a mente criminosa e a escrita que tenha escapado a Cesare Lombroso, mas apenas entre esta e a disponibilidade de tempo. Com esta teoria na cabeça tenho folheado o Código Civil em busca de um crime moralmente aceitável e punido com uma pena adequada a um romance. Nada muito extenso, trezentas ou quatrocentas páginas (ou um ou dois anos, se preferirem). Como vivemos em democracia, os únicos que se poderiam adequar não estão lá, os crimes que garantem o estatuto de prisioneiro político.

A acreditar numa reportagem que vi há algum tempo existe uma alternativa mais moderna à prisão: o funcionalismo público. Era sobre o modernismo brasileiro e o estudioso tinha chegado à conclusão de que a maior parte dos grandes poetas e escritores do movimento, como Carlos Drummond de Andrade ou João Cabral de Melo Neto, eram funcionários públicos. A relação escapa-me mas parece-me um bom argumento para uso dos sindicatos e contra a diminuição do peso do estado.

4 comentários:

Anónimo disse...

Não tenho dúvidas de que virás a comprovar a teoria e que a função pública será um degrau para te tornares um autor incontornável. Se bem que a ideia de cometeres um crime e escreveres a tua obra-prima na prisão é muito mais romântica. Neste caso, o risco seria que o livro fosse exposto nos escaparates da literatura gay.

O Arquivista disse...

Fui eu que me tornei, sem disso dar conta, um terrível conservador ou foram vocês que se tornaram num casal demasiado moderno, pronto a fazer um ao outro sugestões perversas que envolvem algemas, masmorras, práticas sado-maso e estimulam o parceiro a intímos contactos com pessoas do mesmo sexo nesses jogos do demónio?
Pensa uma pessoa que conhece alguém...

Tiago Araújo disse...

O meu imaginário só envolve baratas e ratazanas. E sempre prefiro uma pena máxima na função pública, como parece que estou prestes a apanhar, a cinco minutos numa cela com um companheiro chamado Osvaldo.

Anónimo disse...

Convencido!