20 novembro 2004

Vi no espelho que estou pálido. Sentei-me aqui ao computador. Do outro lado da rua, através da janela, o amarelo da parede do Arsenal da Marinha está pálido. Esta luz empalidece-nos a todos. O país também está pálido, na palidez do Governo, das oposições, das pessoas nos comboios de manhã ou a trabalhar no campo, na palidez das casas de emigrantes com azulejos de fora como há por aí, ou na palidez do Palácio de Queluz, que também o há. O país deve ver-se ao longe quando se quer vê-lo melhor. Daqui a nada vamos para Barcelona, onde o espírito das cores dos artistas da cidade absorvem a nossa palidez. Boa viagem! Obrigado. Talvez fiquemos por lá, nunca se sabe o efeito que certas cidades têm sobre as pessoas.

(Aceitam-se parabéns à Carla nos comentários, a partir da meia noite, porque faz anos amanhã, dia 21)

2046
É um filme curioso, lento, longo. As memórias são lugares de onde nunca se regressa, como em 2046. Cada plano é quase um quadro que apetece guardar. E as personagens perdidas são todas gente desesperada como tanta gente. Wong-Kar-Wai, depois de Disponível para Amar, está mais amargo. Demasiado. Nem quando as pessoas se divertem estão felizes. Que assim não seja.

Vieira da Silva
Na respectiva fundação, os quadros da artista dispersos pelo mundo em colecções particulares ou de instituções. Vale a pena ver, porque não sabemos quando voltarão a juntar-se. Ontem flutuei pelos espaços profundos de alguns quadros, outras dimensões que nos levam por eles a dentro como poucos, num movimento perpétuo de absorção do vidente.

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