28 novembro 2004

As meninas de Picasso
Saímos do Museu Picasso para as ruas estreitas do bairro gótico de Barcelona, tão diferentes das Ramblas: trazíamos ainda os desenhos de infância, os primeiros retratos clássicos do pintor - ou não tivesse o pai dele sido professor de belas-artes -, tudo aquilo que não se imagina que Picasso pudesse ter pintado, como a cena realista de uma primeira comunhão com que ganhou um prémio aos 15 anos, mas levávamos na mente sobretudo o quadro e as dezenas de variações distorcidas das "Meninas", de Velasquez, vistas por ele.

As anchovas de Dalí
À procura de um bar de tapas, andámos às voltas pelo bairro até voltarmos à rua do museu e darmos com uma fila de gente que entrava para uma taberna a abrir a porta naquele exacto momento, sete da tarde: seguimos a procissão para o "Xampañet", sentámo-nos, pedimos tapas de tudo, repetimos, e acompanhámos as ditas, deliciosas, com um vinho branco espumoso, que não é espumante nem vinho verde, a que eles chamam o "cava". As melhores e a jogar com o vinho eram as de achovas, "as preferidas de Dalí", como estava destacado num artigo de jornal pendurado na parede, debaixo das pipas. Parece que o surrealista gostava de ir ali beberricar e petiscar as melhores anchovas da cidade. Uma fonte de inspiração a que fomos sensíveis. Pelo menos eu saí de lá um bocado mais surreal...

A sombra do vento
Na mesma noite, um pouco mais tarde, Fermín Romero de Torres era violentamente feito em papa quando ia a entrar para o mesmo "Xampañet", de tanta porrada que apanhava de um tal de inspector Francisco Javier Fumero, um esbirro e assassino do pior, da polícia política espanhola, que deixou o homem de costelas partidas e impróprio para consumo durante dias. Mesmo com tanto sangue, foi uma agradável surpresa: agora, quando viajo de férias, leio sempre um romance que se passe nos lugares onde vou, e foi o que aconteceu. Antes de dormir, li que Fermín queria comer umas tapas ao tal de "Xampañet", mas teve azar, e só quando revi as fotos na máquina digital confirmei, satisfeito, que era o mesmo lugar... "A Sombra do Vento", de Carlos Ruiz Zafón (Dom Quixote), ganhou prémios em 2001 e 2002 e é um best-seller mundial, mas não é um grande livro, apesar da história ser impulsionada pelos livros. Lê-se compulsivamente, mas vale duas estrelas em cinco. Para apreciar em viagens descontraídas de férias.

Irlandeses de Glasgow
Em Barcelona respira-se futebol. Depois da vitória sobre o Real Madrid, a cidade recebeu os adeptos listados de verde e branco (como o Sporting) do Celtic de Glasgow - o mesmo clube que o Porto venceu na final da Liga dos Campeões o ano passado (eh, eh!). Os escoceses enchiam os bares, os pubs e as ruas com cânticos de cerveja aos litros. Tudo normal. Menos a quantidade de bandeiras da Irlanda que desfraldavam pelas ruas e a ausência total da flâmula da Escócia. Depois de cruzadas quatro fontes muito entornadas e de sotaque impossível após um jogo que acabou empatado um igual, solucionei o mistério: o fundador do Celtic foi um irlandês, daí que o símbolo do clube seja um trevo de quatro folhas; os adeptos são maioritariamente de um bairro situado na West Wing de Glasgow, onde se fixaram os imigrantes irlandeses no início do século; os avós são irlandeses, eles são escoceses e não gostam lá muito de ingleses. Por isso nem eles perderam nem os da Catalunha ganharam. Afinidades...

2 comentários:

Anónimo disse...

q porcaria isto!
=(

Anónimo disse...

q merda
=(
=(