Este é um daqueles postais que mandamos aos amigos e chegam à caixa do correio muito depois de termos regressado de viagem, e encerra os posts das minhas férias:
Trojir. Croácia.
O Adriático é o mar veneziano. Enquanto percorremos a costa, damos com cidades que são pequenas venezas, embora sem os canais: os palácios, os arcos nas janelas, as ruas labirínticas, as piazzetas, os turistas. E os gelados. Muitos gelados, quase tão bons quanto os italianos. Mas naquela gelataria - não mais do que uma arca congeladora ao ar livre -, na marginal de Trojir, em frente a um dos grandes iates ali atracados, descobri uma daquelas pessoas que faz de um emprego banal um ofício e uma arte.
A arca dos gelados estava cerca por turistas e crianças, de notas na mão, a pedirem uma, duas, três bolas. O rapaz pegava num cone, tirava um sabor bem redondo com a colher e depois atirava o gelado ao ar, uns três ou quatro metros, e apanhava a bola de natas atrás das costas, a de chocolate caía directamente em cima da de natas e, na de morango, dava três voltas sobre si mesmo, para o gelado acabar composto e na mão de quem pagou para ver. Puséssemos nós, assim, em tudo o que fazemos, aquele pedaço de alma que dá encanto às coisas...
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