08 agosto 2004

Sabonetes ao poder

É injusto dizer que Santana e Sócrates são iguais. Quem olhar com atenção percebe que os dois são diferentes: o primeiro-ministro tem uma personalidade quente, emocional, é um improvisador, um espontâneo movido pelo combustível da reacção às acções dos outros; o candidato a secretário-geral do PS é frio, absolutamente cerebral, e contido ao ponto de avaliar cada gesto e cada palavra.

A zona de intersecção entre ambos é o instrumento para chegar ao mesmo fim: a comunicação social, a fábrica das imagens, e as intervenções cheias de nada.

Há umas semanas li dezenas de entrevistas e artigos de Santana Lopes publicados na imprensa desde os anos 90. A sua capacidade impressiona: é capaz de escrever lençóis de textos sem dizer absolutamente nada, sem deixar trair-se por uma ideia. É preciso peneirar milhares de linhas sobre a vida partidária para encontrar um conceito, um rumo de pensamento sobre o país, ou a defesa de uma medida. Sócrates também provou, nas últimas semanas, que é igual. A entrevista das citações ao Expresso foi um desastre, o artigo sobre o plano tecnológico no Público é um conjunto de generalidades que toda a gente defende, e a página do Diário de Notícias, dirigida à ala esquerda do PS, serviu mais para esconder do que para mostrar o que pensa.

Bem-vindos ao país moderno! Já houve quem quisesse vender Presidentes da República como se fossem sabonetes. Agora temos sabonetes que são ou querem ser primeiros-minstros.

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