Todos aqueles que foram a favor da revelação das gravações (imprudentes ou ilegais, conforme a opinião) do jornalista do Correio da Manhã, Octávio Lopes, deviam ler com atenção dois artigos na revista The Economist do dia 21 de Agosto (artigo em editorial e peça jornalística).
Enquanto em Portugal são os próprios jornalistas que honram os leitores com a revelação das fontes dos outros jornalistas, nos Estados Unidos, um jornalista da Time, de seu nome Matthew Cooper, foi condenado a prisão efectiva de 18 meses (ou multa de mil dólares por dia) por não revelar uma fonte sensível da Casa Branca que lhe passou uma história: Copper escreveu, no Verão passado, que Valerie Plame, mulher do ex-embaixador que passou a informação aos media de que o famoso urânio nigeriano nunca tinha sido vendido ao Iraque, era uma agente encoberta da CIA.
Ora, toda esta história é muito complicada do que isto, mas o que importa é reter o seguinte: o jornalista (e outros três repórteres acusados) não revela a fonte porque, embora sendo do interesse público saber quem, na administração Bush, quis "lixar" o embaixador pondo em perigo a agente secreta e as pessoas a ela ligadas, há um valor superior que é o da liberdade de imprensa. O editorialista da Economist, escreve: "If reporters were routinely forced to identify confidential sources, those sources would dry up and the public would lose potentially valuable information. The public should not want the media to be servants of the legal system any more than it wants them servants of government".
No caso português, o mais triste é que não foi um tribunal a forçar um jornalista a revelar as suas fontes - o que, de resto, o transformaria num mártir da classe -, mas terem sido camaradas de profissão a fazê-lo. As consequências de quaisquer erros que tenham sido cometidos deveriam recair directamente sobre o jornalista e seus superiores, por cometerem ou permitirem que se tenham cometidos falhas grosseiras durante o exercício da profissão. Quando as consequências recaem apenas sobre as fontes, como aconteceu - que, caso não mintam, se arriscam pessoal e profissionalmente a passar informações de interesse público -, é a própria democracia a ficar em perigo.
Se o jornalista vai à fonte, tem de trazer o cantarinho inteiro, ou então acaba um dia morto à sede.
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