Devemos à conjunção de um espelho e de uma enciclopédia a descoberta deste mundo. Por Vítor Matos e Tiago Araújo
11 agosto 2005
Entrevista com o Diabo
Quando entrei no elevador o Diabo já lá estava. Fingi que não dei por ele, apesar dos cornos vermelhos, do tridente, da cara toda encarnada, queimada das temperaturas infernais, e pior: tinha um ar normal o que, como todos sabemos, é o maior truque usado para nos enganar. O Demónio parecia fazer de conta que era um dos executivos do outro andar. Mas não: eu ia carregar no botão do sexto andar, mas a luz já estava acesa. Hesitei. Nunca tinha encontrado um anjo. E ia partilhar um metro quadrado com o Diabo. Serei eu Fausto, pensei? Vai querer comprar-me a alma, mas desta vez o jackpot do Euromilhões é só de 25 milhões, e isso não compensa. Vai simular uma queda do elevador - como aliás costuma acontecer a péssimos ascensores que passam a vida a cair para o piso menos cinco - e entretanto corromper-me para o resto da vida? Não. Ele há Diabos bons, ou tão só pobres Diabos. Saiu antes de mim. Dei-lhe passagem, sou um cavalheiro. E perguntou ao pessoal que estava na máquina do café: "O Miguel está? Tenho isto para lhe entregar." E estendeu a mão com o novo detergente de sanita da Sonasol, "para acabar com o cheiro infernal". O pessoal riu. "E você tem de se vestir assim só para entregar isto?" Ele há gente que para ganhar a vida já faz o que for preciso.
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