Passaram quatro dias. Os mortos quadriplicaram naquela escola. Porquê a loucura? Ou o horror... o horror, como repetia Marlon Brando em Apocalypse Now. Sempre que perguntamos porquê e não há respostas (porque a razão não encontra razões para certos tipos de mal), damos com algo em que não conseguimos pensar. Como é que, como seres humanos, nos podemos reconciliar com esta realidade, com todas as realidades do que não devia ser mas é? Hannah Arendt dá uma das respostas possíveis em Essays in Understanding 1930-1954. Para sobrevivermos a tudo isto, e ao resto, é preciso encontrarmos o nosso lugar na realidade sem nos resignarmos a ela:
(...) to find my way around in reality without selling my soul to it the way people in earlier times sold their souls to the devil. (citado em Evil in Modern Thought, de Susan Neiman, Princeton University Press)
Menos loucos do que os sãos são os loucos. A loucura está ali na esquina à nossa espera, basta ligar a TV, tão palpável como esta mão. A loucura alienada de quem vê o que não existe é uma benção divina que protege uns eleitos daquilo que é real. Não vender a alma à realidade pode ser tão alienante como viver do outro lado do espelho.
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