10 setembro 2004

O lado humano de Adolf Hitler

O filme sobre os últimos 12 dias de Hitler, "Der Untergang" (O Crepúsculo), do realizador Oliver Hirchbiegel, só estreia no dia 16 na Alemanha, mas já está a criar polémica. Porque a figura do líder nazi aparece humanizada, e por depois de Auschwitz não ser aceitável mostrar o lado humano de um ser assim.

Mas é bom que se mostre o lado humano de Hitler.
Para que vejamos como um ser humano, de carne e osso, como outro qualquer, consegue tornar o mal ao mesmo tempo mais absoluto do que uma catástrofe natural, e tão banal que toda uma sociedade o aceitou e seguiu ao longo de anos. O pior que o monstro pode encerrar é essa humanidade, essa semelhança com cada um de nós, no beijo a uma amante, na festa a um animal doméstico, na fragilidade quando se aproxima do fim. É muito fácil defendermo-nos da impossibilidade de erradicar o mal do mundo concentrando toda a culpa numa aberração da natureza como pensamos que Hitler foi. Realçar o lado humano dele é espalhar por todos nós a culpa de o bem não triunfar em definitivo, que é o retrato do mundo em que vivemos...

Helena Ferro Gouveia, correspondente do Público em Berlim escreve (na quinta-feira, dia 09 de Setembro) que o "'Die Welt' recorda que cada vez que a Alemanha se confronta com o III Reich isso é ocasião para debater sobre o trauma alemão e a 'normalidade'". Jornais britânicos acusaram os alemães de estarem a fazer o papel de vítimas. É uma polémica a seguir com atenção.

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