16 setembro 2004

(Blood), Sweat and Tears

Foi com surpresa que acordei hoje de manhã, pois julgava ter assistido ao fim do mundo ontem à noite, no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém. Cerca de vinte actores-bailarinos apresentaram o resultado final de um estágio orientado por Jan Fabre, com uma coreografia intitulada (Blood), Sweat and Tears. E houve de facto muitas lágrimas, muito suor e, provavelmente, muito sangue nas múltiplas hemorragias internas que os espectadores iam adivinhando nos corpos contorcidos e maltratados dos actores. (Talvez essa a razão para o Blood estar entre (), por o sangue ser interno.)
Há um fenómeno psicológico qualquer em que as vítimas começam a sentir simpatia pelos seus raptores. Só consigo encontrar essa justificação para o facto de ter gostado muito do espectáculo, apesar da prova psicológica a que fui submetido nos primeiros vinte minutos de corpos contorcidos, de choros e de gritos. Depois, corpos vestidos de negro, semi-vestidos de negro e nús; com muito suor e lágrimas e a utilização inteligente de um texto escasso. Sentia-se que a coreografia conseguia despertar emoções extremas não só nos bailarinos mas também nos espectadores que, a julgar por mim, começaram a sentir-se fisicamente extenuados. No final, não houve standing ouvation, mas apenas porque uns, como eu, estavam demasiado cansados para se levantarem, e outros queriam esconder possíveis erecções.

(Obrigado Nuno Moura, vai-nos mantendo informados.)

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