Mês e meio depois do terramoto de 1755, Voltaire escreveu esta carta a um pastor protestante:
"Tenho pena dos portugueses, como vós, mas os homens continuam a fazer mais mal uns aos outros no seu pequeno montículo de terra do que a natureza lhes faz. As nossas guerras massacram mais homens do que a terra engole em terramotos. Se neste mundo apenas tivéssemos de temer o inesperado acontecimento de Lisboa, ainda devíamos estar numa situação tolerável".
Avançamos 250 anos. O mundo está o mesmo. Pensamos naquilo de que vivamente melhor nos lembramos dos noticiários mais recentes, e a conclusão não é diferente do que o mesmo Voltaire pôs na boca de um dos seus personagens em Cândido: Martin concluiu que o mundo existe para nos enlouquecer. Vivemos do lado real do espelho, onde habitam os corpos, mas tudo o que é verdadeiro é cada vez menos tolerável.
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