16 junho 2004

«O rapazinho está fora de si. Abre caminho através da multidão, gritando, até à égua, abraça-lhe o focinho morto e ensanguentado, e beija-a, beija-a nos olhos, nos beiços...» (Crime e Castigo) Raskólnikov sonha com a infância, com um domingo em que passeia com o pai e vê um camponês bêbado bater no seu cavalo até à morte. No acto que despertou a loucura que o acompanharia o resto da vida, Nietzsche, em Turim, em 1889, corre para um cavalo que está a ser açoitado pelo cocheiro e abraça-lhe o pescoço. A influência de Dostoiévski em Nietzsche ultrapassa nesse momento a ficção. Ou transforma-se em ficção, o que é quase a mesma coisa.

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