Devemos à conjunção de um espelho e de uma enciclopédia a descoberta deste mundo. Por Vítor Matos e Tiago Araújo
29 janeiro 2008
Cada vez mais ninguém
Grândola está cheia de buracos, ausências de gente que devia ocupar o devido lugar e não está lá. Na minha imaginação por ali andam, fantasmas. A vila que existe é uma farsa por ser menos eu. A vizinha que morreu há uma semana - eu só lhe dizia bom dia boa tarde - é como se lá estivesse à janela; o vizinho que morreu há meses e não sabia, eu esperava vê-lo e dizer-lhe "olá como vai!", sem ele me reconhecer por não me imaginar com mais 15 anos; e o pai do meu amigo "que já lá está", afinal esquecera-me disso, por ser mais evidente que estivesse vivo. São assim as coisas. Olho para os velhos e penso que já têm mais mortos na vida que vivos. Têm os lugares cheios de ninguém. E depois a memória tudo afasta e vidas inteiras se resumem a uma frase. Macondo também desapareceu do mapa, levando para o esquecimento as suas ruas com nomes de generais.
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