O ritual mensal de ir ao barbeiro sempre me foi penoso. Estar sentado naquela cadeira, imóvel, enquanto alguém à minha volta maneja objectos afiados deixa-me indefeso. Não há outro momento em que sinta tanta empatia pelas partnéres dos atiradores de facas do circo.
Durante mais de vinte anos fui ao mesmo barbeiro, apesar de não gostar particularmente da forma como me cortava o cabelo. Dizem que um sinal de maturidade nas relações é duas pessoas conseguirem estar em silêncio sem se sentirem desconfortáveis. Foi por isso muito difícil quanto me mudei para o centro de Lisboa e tive de passar meia hora por mês em silêncio com um novo barbeiro. No final, quando trazem aquele espelho para que consigamos ver o corte na parte de trás da cabeça, sinto sempre um desejo incontrolável de aplaudir. E algumas vezes de ir comprar um chapéu.
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