Devemos à conjunção de um espelho e de uma enciclopédia a descoberta deste mundo. Por Vítor Matos e Tiago Araújo
29 julho 2007
Hoje a temperatura está mais elevada fora do que dentro dos nossos corpos. A meteorologia aconselha à introspecção. Lá fora não há nada. Lisboa está quase deserta, com ilusões de água no alcatrão a escaldar. As circunstâncias excepcionais parecem justificar comportamentos excepcionais. A partir dos trinta e sete graus e meio as convenções sociais são abolidas. Na Rua Garrett uma mulher vendia poesia. Perguntei-lhe a quanto estava o poema. Dois euros, mais do que as cerejas. Perto de Belém, meia dúzia de crianças chapinhava dentro de uma fonte, sob o olhar atento das mães. Num parque de estacionamento público, no carro ao lado do nosso, um casal estava a ter sexo tórrido no banco de trás. Mudámos de lugar, para não os incomodarmos, apesar de a sombra ser a mais cerrada. Estendemos uma manta na relva, debaixo de uma árvore, frente ao rio.
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1 comentário:
Parece que a excepção vai continuar a ser a regra: hoje ainda está mais calor do que ontem, com a agravante de eu estar a trabalhar enquanto outros estão a refrescar-se nas águas do mar ou na sombra das árvores. Ninguém vai reparar se eu andar descalça pelos corredores, pois não?
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