27 junho 2009

Fragmento de um discurso amoroso

Ao longo da infância tive, como todas as crianças, uma grande quantidade de paixões violentas e impossíveis. Lembro-me do nome de quase todas, desde os meus quatro ou cinco anos. Em retrospectiva, o mais estranho dessas paixões infantis era a impossibilidade de concretização. Aos seis ou sete anos não se namora e, mesmo que existam beijos, não têm o significado que vêm a adquirir mais tarde. Mas o platonismo não tornava menos importante a busca. Mesmo quando a paixão era correspondida, o que é raro acontecer quando somos tão novos, a relação era ritualizada numa série de jogos, de insultos pouco sinceros, de demonstrações de desinteresse mal encenadas. Era um jogo de ténis infinito, jogado entre a vantagem nula e a vantagem temporária de um dos dois, por nenhum deles saber o que fazer em caso de vitória.

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