28 abril 2006

Agora resta-nos a chico-espertice de viver mais do que manda a esperança média de vida

Uma dúvida, sobre a reforma de Sócrates sobre as reformas: se eu morrer antes de atingir a esperança média de vida, que entretanto aumentou e prejudicou o valor da minha reforma, terei alguma recompensa eterna? Não, nesse caso será apenas: azarinho...

Na mesma semana e no mesmo lugar, o Parlamento, quem parece ter dito umas coisas de esquerda foi Cavaco, não Sócrates. Um pensa à direita mas não diz, o outro está cada vez mais à direita mas finge que é de esquerda (moderna)... vão dar-se lindamente. Terá Cavaco em Sócrates o PM que ele sempre sonhou para o PSD?

26 abril 2006

Esquerda ou direita, is that the question?


Martim Avillez Figueiredo diz hoje no editorial do Diário Económico que Cavaco foi ao Parlamento “fingir um discurso à esquerda”. Martim tem razão – parcialmente –, quando o PR responsabiliza mais do que o Estado pela justiça social. Mas ele não pede menos Estado. Exige um esforço suplementar de responsabilização social de cada cidadão.

Apesar de pedir para que se esqueçam as ideologias, Cavaco não tem um discurso assim tão próximo dos liberais. Está umas vezes mais perto da direita tradicional, mais assistêncialista ou caritativa; ou de alguma esquerda católica, como António Guterres, apesar de há 10 anos Cavaco ter assumido que o Rendimento Mínimo era um subsídio à preguiça.

Num exercício que corre o risco de parecer muito a preto e branco, podíamos interpretar o discurso do PR assim:

Esta frase de Cavaco, uma lapalissada podia ser dita por alguém do CDS até ao BE:
O risco de pobreza persistente, que é relativamente elevado em Portugal, aumenta substancialmente no caso dos idosos

Neste caso, o PR coloca a sua voz claramente à esquerda, do tipo, os ricos que paguem a crise. Mas também pode ser vista à direita, para se diferenciarem as prestações, tratando-se de forma diferente o que não é igual:
“O esforço que o Estado tem vindo a realizar para atenuar os efeitos deste quadro social tem de ser continuado. Não é moralmente legítimo pedir mais sacrifícios a que viveu uma vida inteira de privação”

Aqui, ao apelar à solidariedade na estrutura tradicional da família, quem fala é Cavaco, o católico, que vai à missa todos os domingos aos Salesianos em Campo de Ourique. É a falta de comparência da família que deixa os idosos à mercê das pequenas pensões estatais:
“Desagregadas as estruturas familiares de apoio, pelas transformações sociais ocorridas nas décadas recentes, ficaram muitos dos reformados de ontem confinados às pensões do regime não contributivo que não lhes conseguem assegurar uma existência condigna”

Finalmente, pede mais responsabilidade social, pragmatismo na resolução dos problemas, mas não pede menos Estado. Diz apenas que não chega exigir mais Estado:
Para que esse risco possa ser atenuado não chega exigir mais medidas ou mais dinheiro. Concretizar essa ambição de justiça social, que não tem de ser remetida para o plano das utopias, passa por cada um de nós. Todos somos responsáveis, todos temos de assumir a nossa quota parte de responsabilidade social que nos cabe como cidadãos

O pragmatismo de Cavaco

A 25 de Abril e a 5 de Outubro, Jorge Sampaio fazia discursos de geometria complicada, verdadeiros exercícios de quadratura do círculo: conseguia falar de tudo ao mesmo tempo, defendia a coisa e o seu contrário, lançava frases cifradas, agradava a todos, desagradava a todos, dava recados ao Governo, às oposições, a toda a gente.

Ontem Cavaco foi mais eficaz. Primeiro sugeriu: está bem, meus senhores, eu podia vir aqui falar dos problemas do regime e puxar as orelhas aos deputados, mas os senhores são crescidinhos e não vou aqui perder tempo a dizer o que toda a gente sabe e pensa, vou antes falar sobre isto - a justiça social - que é coisa muito mais importante para a vida das pessoas. O discurso está aqui.

Ao fechar o ângulo, conseguiu lançar todos os olhares para um único problema, invertendo a lógica dos discursos presidenciais. Ao escolher um tema que tanto preocupa o PC como o CDS manteve-se acima das lutas partidárias.

Ao falar da vida real das pessoas deu um sinal ineqívoco: a política serve para pensar nos outros e existe como serviço aos outros - e nisso ele assume um certo carácter messiânico - mais do que para passar o tempo aos círculos a reflectir sobre si mesma.

A contradição é tão só esta: Cavaco ganhou as eleições ao centro e já fez dois discursos à esquerda; então, para que servem os seus conselheiros mais próximos, conotados com o que há de mais liberal do ponto de vista do mercado e conservador do ponto de vista dos costumes? É que nem tudo o que Cavaco diz é tudo o que Cavaco pensa.

Um cravo no carrinho do Miguel

Ontem consegui sair cedo, coisa rara. Sentei-me com o Miguel numa esplanada na Avenida da Liberdade a ver o desfile do 25 de Abril e estivémos ali os dois a fazer coisas de homens: eu a beber uma cerveja e ele a comer uma papa e a dizer bá, bá! Há dias bons.

24 abril 2006

Conversas de rua - 2

"Is this fado?" - turista para outra, no meio de um grupo que descia a Rua do Carmo na sexta-feira Santa, ao som de Mariza, que cantava através das colunas daquele calhambeque que vende discos de fado na Baixa.

14 abril 2006

Conversa solta

Há fragmentos de conversas que se apanham na rua, no metro, nos cafés, que são instantâneos tão deliciosos como velhas polaroids. Vou começar a anotar Conversas de Rua e a partilhá-las aqui ao espelho. Como no post em baixo.

Conversas de rua - frases de hoje


"É mais fácil neste país chegar a primeiro-ministro do que estacionar o carro". Homem de meia idade, na Rua Filipe Folque, Lisboa, a gritar para um amigo.

"Ele passa férias no México ou em Óbidos". Jovem para outra, na Av. Conde Valbom, Lisboa.

"Fui preso mas não roubei nada a ninguém, nem matei. Fui preso por tráfico de droga, tráfico de droga, pá!" Bêbado, pelas nove da noite, num cafezinho do Prior Velho, Loures.

Ora vamos lá pecar

Segundo um dos maiores da hierarquia Católica, agora passar tempo na Internet é pecado. Bem, mas como já é tarde e eu hoje ainda não pequei, decidi pecar só um bocadinho.

07 abril 2006

Estrebuchar

Berlusconi atacou jornalistas e juízes. Guess what? Vai perder as eleições italianas, como Santana e como Soares em Portugal. É o que se chama um reflexo pavloviano.

O realismo

Aprendi há muito tempo que não posso mudar o mundo mas posso mudar a minha vida. Agora ando a descobrir que mesmo essa de mudar de vida se vai tornando mais difícil com a idade.

05 abril 2006

Nação bastarda


Ao que parece, Afonso Henriques, o verdadeiro, era aleijado, tendo sido o bebé original substituído por um saudável filho de Egas Moniz. O livro de Agustina que o Abruto nos oferece em pré-publicação (uma iniciativa interessante que esperemos que resulte) põe a nu alguns genes de Portugal. E a genética ajuda sempre a perceber quem somos.

- Se não é bastarda, a Nação nasceu para argumento de novela venezuelana e isso não deixa de ser divertido, apesar do fado ser melancólico;

- A modernidade é muito mais aborrecida, porque acabaram-se os milagres: pode parecer, mas não é tão miraculoso o Sampaio demitir o Santana Complicadex e nomear o Sócrates Simplex, como foi o Egas invocar o divino após trocar o menino legítimo, mas defeituoso, por outro saudável e futuro guerreiro;

- Se não fosse aquela mentira, andávamos todos a falar espanhol, Camões não havia, nem alma Lusitana, nem Barça-Benfica.

- Já estou aver a cena: o aio Egas Moniz diz a D. Afonso, "Eu é que sou o vosso verdadeiro pai, vós fostes trocado, por isso, podeis fazer a guerra a D. Teresa, ela não é a vossa mãe, mas sereis ser rei e governareis"; o infante replica-lhe em lágrimas, "Papá, eu sabia, estou tão emocionado, vinde, pegai na espada, vamos aí desbaratar uns mouros..."

Eu sou um pessimista

O funcionário das Finanças que hoje recebeu os meus 100 euros de multa porque decidi fechar os recibos verdes com uma data de 2005 (porque desde Julho nunca mais passei recibos), tinha um cartão colado ao vidro da repartição a dizer: "Eu sou um optimista!"

É bonito ver um funcionário público de óculos fundo de garrafa e fato cinzento claro com corte dos anos 70, cheio de sarro, pulover verde com desenhos pretos e gola da camisa numa confusão a dizer que é optimista enquanto cobra multas por dá cá aquela palha. Como eu gostava de ter essa sorte. Acho sempre que tudo vai correr mal para depois parecer que correu bem.

04 abril 2006

Boas decisões

- Mudar de casa e comprar o pacote alargado da TV Cabo que incui o Fox, para ver os Ficheiros Secretos, as Donas de Casa Desesperadas, o 24, o House (sobre médicos, mas melhor do que o Serviço de Urgência), os Simpsons e outros desenhos animados para adultos, muito corrosivos.

- Comprar um iPod e descarregar todas as semanas o podcast do Meet the Press, da NBC e o Washington Week da PBS.

- Ler a Conspiração Contra a América, de Philip Roth.

- Dar o biberão da manhã ao Miguel e sair de casa mais cedo.

03 abril 2006

A marca da moça registrada

Nunca li e jamais lerei a Margarida Rebelo Pinto, portanto, nem sei se é boa. Escritora. Se ela pode interpor providências cautelares para impedir a publicação de uma obra crítica à sua obra - num país onde há liberdade de expressão -, não pode alguém pedir uma acção cautelar a um tribunal que também a impeça de escrever? Não era bom, seria mau, todas as sociedades têm direito a ter má literatura, se é disso que se trata, mas era equitativo.

Olhó verso em conta!

Há poeeesia baraaata! Na R. Passos Manuel, ao Jardim Constantino, na livraria da Assírio & Alvim, podemos comprar na feira do livro manuseado (da própria editora), Pessoa, Herberto Helder, Cesariny, etc. a metade do preço. Até quase ao fim de Abril. É pena que só esteja aberta entre as 12h e as 19h.