23 fevereiro 2005

Como o tempo passa. Três dias sem um post e tudo a acontecer. Santana a demitir-se apesar de achar que nem era preciso; Marques Mendes a fazer aquilo que sempre quis, tentar chegar a líder; Luís Filipe Menezes a dar-lhe caça; e os notáveis do partido à procura de alguém mais sólido e abrangente. Até parece que nem foi histórica a vitória do PS e que vamos ter Governo novo. O PSD em crise é um espectáculo, e o próximo congresso vai bater os recordes de audiências da SIC Notícias. Para já, os socialistas agradecem. Espero que os laranjinhas acertem na escolha, desta vez, porque as boas oposições são fundamentais para as maiorias absolutas.

22 fevereiro 2005

O catenaccio político de Sócrates... e o resto

José Sócrates inaugurou a era do catenaccio político. Alcançou a maioria absoluta da mesma maneira que a Grécia bateu Portugal no Euro: sem arriscar, sem dar um passo em falso, a jogar sem na verdade jogar, a confiar no excesso de voluntarismo do adversário, à espera que o concorrente demasiado atacante se espalhasse sozinho e abrisse os flancos, a defesa, o ataque. Um jogo rígido, plástico, sem mostrar o que tem de bom para também não se ver o mau. E, no caso em concreto, a outra equipa ajudou. Nos últimos dias de campanha Santana comportava-se com o desespero das equipas que estão a perder 3-0, e Sócrates como as que têm o jogo garantido. Curiosamente, o PS conquista a sua maior vitória de sempre sem euforias. Quando uma equipa pratica catenaccio (ciência do futebol defensivo), tem a consciência que vence mais por demérito do adversário que pelos seus grandes pergaminhos.

Pedro Santana Lopes, na sua declaração de derrota, olhos avermelhados e voz baça, começou por dizer que tinha a "honra" de ser amigo de Paulo Portas. Porque Portas fez o que fez: demitiu-se assumindo uma derrota enorme, pouco mais de um por cento. Nesse momento, pareceu que ele havia de dizer: "O Paulo também terá a honra de me ter como amigo, porque a minha derrota é muito maior, e até contribui para a dele, portanto, demito-me e saio destas funções, porque fui derrotado e dei à esquerda a sua maior vitória de sempre, e é esta a melhor maneira de me responsabilizar por isso". Ora, nada de mais errado esperar tal coisa: Santana deixou o PSD no limbo: não se demitiu para ver quem eram os coelhos que saíam da toca. Só apareceu Marques Mendes, todos os outros estão por agora perdidos na confusão da contagem de espingardas. O Pedro tem um sonho, mas não percebe que o sonho dele se está a tornar o pesadelo da instituição que devia salvaguardar, caso se inspirasse verdadeiramente em Sá Carneiro. A sua permanência na liderança e uma possível recandidatura é uma tragédia que ultrapassa as fronteiras do PSD: porque Portugal precisa desse partido saudável.

Paulo Portas criou o happening da noite. Alguém acredita que pode haver um CDS sem P.P.? A vaga de fundo para trazer o Paulo de volta já começou. Resta saber se ele não colocou a fasquia eleitoral tão alta (logo ele, um conservador calculista) para não ter de passar quatro anos a fazer números de trapézio com cambalhota no Parlamento. Ainda terá paciência para isso? Prognóstico: se Portas sair mesmo - e se não se candidatar à Presidência da República -, voltará ao CDS como um messias dentro de dois ou três anos para disputar outras eleições em que possa regressar ao Governo.

Jerónimo de Sousa fez o PCP crescer em percentagem e em votos (50 mil), o que não deixa de ser extraordinário, já que não o fez à custa nem do PS nem do Bloco de Esquerda. Apesar de rouca, a voz do operário fez-se ouvir. O declínio final do PCP fica adiado por mais uns tempos, enquanto não se peceber muito bem o que a cabeça daquele homem simpático na realidade pensa.

Francisco Louçã não podia imaginar. Oito (oito) deputados, quando o Bloco pedia o dobro de parlamentares e votação. Agora, e com a maioria absoluta do PS, isto não significa que o BE venha a ter o dobro da influência que tinha. Estarão eles desradicalizar-se? Temos de esperar para ver se Louçã consegue irritar Sócrates como tão bem conseguia fazer com Barroso.

Brancos foram os votos que cresceram quase o dobro. O resultado dos votos de protesto tem significado (mais de 100 mil) e devíamos reflectir sobr eo fenómeno, porque pertencem a cidadãos preocupados que não ficaram em casa a coçar a micose.

Abstenção não é preocupante. O nível alto de participação sim. Porque as pessoas perceberam que isto bateu mesmo no fundo e mais uns 300 mil resolveram ir votar. É bom, porque os portugueses se preocupam com o seu país e não se querem alhear. É mau, porque cidadãos mais despreocupados correspondem a sociedades e a momentos em que o contexto é menos grave.

Jorge Sampaio deve estar contente. Mesmo sem ter encomendado sondagens, interpretou o que sentia a sociedade portuguesa, que baniu Santana com uma maioria absoluta de um PS que tinha deixado má memória recente. Mas este momento dissolvente deve ser absolutamente excepcional. Tal como sucedeu, deve ser justificado apenas por razões políticas e de dignidade do Estado, e não por discordância em relação às políticas - de policy - (democráticas) que um Governo queira implementar. Para isso há o veto.

19 fevereiro 2005

A Carta

Esta carta que o Tiago Araújo recebeu na caixa do correio, esta semana, mostra mais uma das verdadeiras faces de Santana Lopes. A missiva não tem logótipo, nem remetente, nem qualquer referência a um partido. Parece daquelas mensagens que são deixadas no correiro pela igreja Maná. Mas é mais grave. Se fizermos uma análise aprofundada sobre o que o ainda primeiro-ministro aqui diz, chegamos a conclusões preocupantes. Ao longo da história, muitas vítimas anti-sistema e populistas tornaram-se ditadores. Contra tudo e contra todos, em nome dos mais fracos, Robin dos Bosques a mendigar o voto junto dos descamisados. Fica a transcrição da Carta de um pedinte, que ainda merecerá uma análise mais cuidada:


Caro(a) Amigo(a)

Não pare de ler esta carta.

Se o fize, fará o mesmo que o Presidente da República fez a Portugal, ao interromper um conjunto de medidas que beneficiavam os portugueses eas portuguesas.

Portugal precisa do seu voto para fazer justiça.

Só com o seu voto será possível prosseguir as políticas que favorecem os que menos ganham e que exigem mais dos que mais têm e mais recebem.

Você não costuma votar, e não é por acaso.

Afastou-se pelas mesmas razões que eles nos querem afastar.

E quem são eles?

Alguns poderosos a quem interessa que tudo fique na mesma.

Incluindo a velha maneira de fazer política.

Eles acham que eu sou de fora do sistema que eles querem manter. Já pensou bem nisso?

Provavelmente nós temos algo em comum: não nos damos bem com este sistema.

Tenho defeitos como todos os seres humanos, mas conhece algum político em Portugal que eles tratem tão mal como a mim?

Também o tratam mal a si. Já somos vários.

Ajude-me a fazer-lhes frente.

Desta vez, venha votar. É um favor que lhe peço!

Por todos nós,

Pedro Santana Lopes

18 fevereiro 2005

A semiótica de Menino Guerreiro - o auto-retrato de Santana

Esta cantiga de Gonzaguinha, esquerdista brasileiro, é o hino de Santana. Vamos analisar a letra de "Menino Guerreiro" segundo a qual o líder do PPD se define.

Um homem também chora
Santana não tem razões para rir. Tem feito o PSD a passar as maiores vergonhas da sua história e, assim, choroso assumido, pode soltar as lágrimas quando assumir a derrota no domingo. O primeiro verso é muito próprio para toda e qualquer vítima da vida.
Menina morena
Também deseja colo
Palavras amenas
Precisa de carinho
Precisa de ternura
Precisa de um abraço
Da própria candura
Primeiro, sublinha-se que o candidato gosta de meninas morenas, o que só abona a seu favor, em matéria de colos. Depois, precisa de ternura, de carinho. Na verdade, o que Santana quer é ser amado, em declarações de amor assinadas de cruz em boletins de voto. É um bebé numa incubadora, que sofre quando os irmãos mais velhos lhe dão pontapés e estaladas. Ele precisa de amor, para poder amar o povo que tem o dever de o adorar. Se o povo não o ama, ele chora. É muito pungente...
Guerreiros são pessoas
São fortes, são frágeis
Guerreiros são meninos
No fundo do peito
Santana é um guerreiro que faz da linguagem bélica o eixo da sua retórica: as batalhas, os combates, os adversários... Mas é um lutador frágil, um pouco ingénuo, por agir mais com emoção do que com a razão. É um menino, uma criança que não faz o que faz por mal, mas porque é assim mesmo, genuína. Não tem maldade, os episódios, os casos, são fruto dessa meninice adolescente que o impele, como os loucos ou os ininputáveis, a dizer o que pensa em cada momento, em vez de pesar o sentido das palavras e dizer o que diz um homem de Estado.
Precisam de um descanso
Precisam de um remanso
Precisam de um sonho
Que os tornem refeitos
O guerreiro não pode apenas lutar. Alguém deve enxugar-lhe as lágrimas, porque os pontapés doem e as facadas nas costas fazem mal às cruzes. Se alguém , todos nós, não dermos um espaço de remanso ou um tempo de descanso ao menino-guerreiro, ele não se refaz. Mas o rapaz tem "um sonho para Portugal". Ou para si mesmo, e é disso que se alimenta.
É triste ver este homem
Guerreiro menino
Com a barra de seu tempo
Por sobre seus ombros
Sim, é muito triste ver o peso que ele carrega por sobre os ombros, cada vez mais, em cada entrevista, como a de ontem ao Público/Renascença. É triste ver como um homem assim chegou a primeiro-ministro deste país, da maneira que chegou. Ninguém lhe acaba com este sofrimento de ter tanta responsabilidade sobre uma coluna vertebral tão menina que ainda está imatura para tamanhos encargos?
Eu vejo que ele berra
Eu vejo que ele sangra
A dor que traz no peito
Só falta dizer que ele também esperneia. Santana berra conta o Presidente da República, contra os irmãos mais velhos que lhe dão pontapés, contra os companheiros que lhe dão facadas nas costas, contra as empresas de sondagens que não o acarinham, contra a comunicação social que não lhe dá o colo, contra os poderosos banqueiros, contra tudo o que mexe. E depois sangra, sofre que é uma coisa dolorosa de se ver, e até nós temo dó só de olhar para ele. Apenas Santana não se enxerga no meio do círculo que criou à sua volta. Apenas sente a dor que leva no peito.
Pois ama e ama
É verdade. Ama as mulheres que amou, ama os filhos que são muitos, ama o país. Como um líder populista sul americano, poderia amar todo o povo e fazer tudo por esse amor. Mas acima de tudo ele ama-se a si mesmo, o que também é típico.
Um homem humilha-se
Se lhe castram os sonhos
Seu sonho é sua vida
E a vida é trabalho
Sim, tem-se humilhado bastante porque Sampaio lhe castrou o sonho de uma vida. Ser esmagado numas eleições, ele que sempre se achou imbatível no jogo eleitoral, é uma grande humilhação, de facto.
E sem o seu trabalho
Um homem não tem honra
E sem a sua honra
Morre-se, mata-se
Vamos ver. Se ele perder o trabalho, ou seja, o emprego como líder do PSD, se tiver consciência de que tudo o que fez nestes cinco meses lhe mancha a honra, o que fará? Matará? Morrerá? Dará lugar a outro? Lutará em congresso contra "os outros" para recuperar a honra? Morrerá de pé, no campo de batalha, como um guerreiro?
Não dá pra ser feliz
Não dá pra ser feliz
Esta é a maior de todas as verdades. Quem vive assim não pode ser feliz. Não dá mesmo. Os altos cargos da nação não foram feitos para meninos guerreiros. Na pior das hipóteses só para guerreiros ou amazonas. Dos musculados e racionais, que não choram, e que fazem aquilo que tem de ser feito, mesmo que não lhe dêem o tal carinho. Santana não pode ser feliz assim, consigo mesmo e com os outros.

O génio da sua campanha que escolheu esta letra para hino foi assassino, autofágico, suicidário. Com amigos destes... Santana já estava à beira do abismo, mas foi dando uns passos em frente, facilitando a tarefa todos os que o empurravam ou que o levavam amigavelmente pela mão. No dia 21 o menino-guerreiro estará livre de todos estes pesos e poderá finalmente viver feliz para sempre.

Um novo Cavaco

Nos jornais de hoje, as sondagens dão a maioria absoluta ao PS. No entanto, o fantasma do empate ainda não passou. Permanece essa possibilidade em aberto, conforme a distribuição dos deputados.
Hoje é tão difícil imaginar Sócrates à frente de um Governo de Portugal (sobretudo com maioria absoluta) como há dois anos e meio era de rebolar no chão a rir se ouvíssemos dizer que Durão Barroso seria presidente da Comissão Europeia. Sócrates, um novo Cavaco? Também dá vontade de sorrir, mas veremos como tudo acaba daqui a umas 60 horas.

Epílogo

Epílogo de um debate ao fim de uns dias: foi espantoso ver como os únicos dois homens que podem chegar a primeiro-ministro, Santana e Sócrates, estavam tão desmotivados, sem força nas palavras, seguros das suas posições de vencedor e derrotado. Nenhum deles parecia verdadeiramente entusiasmado com a ideia de mandar no destino deste país. Portas e Louçã, que têm nichos de eleitorado muito bem definidos, não precisam de fazer discursos chochos, e na televisão isso funciona a seu favor.

15 fevereiro 2005

O Debate a cinco

O comentário ao debate em tempo real, em todos os posts abaixo deste:

Declarações finais - Debate XXIV

Louçã fala para a câmara, recomenda as melhoras de Jerónimo e enuncia a suas políticas essenciais (contra o aumento da idade da reforma, também).
Santana pede as melhoras do comunista, garante que fala a verdade, que não aumentará os impostos directos (e os indirectos?), diz que haverá estabilidade para se criarem empregos, pagará estágios aos jovens.
Sócrates desta vez (ao contrário do frente-a-frente) também fala para a câmara: "deixo esta ideia", repete, mas não fala de medidas, apela ao voto, diz que um voto no PS não é um voto de protesto, mas de mudança. Todavia não fala de qualquer proposta concreta, apenas enuncia generalidades. "Uma menagem de energia é absolutamente necessária". O que é que isto quer dizer?
Portas diz que Portugal precisa de liderança. Ser capaz de ter ideias claras e reunir uma equipa. Invoca o sentido de Estado do CDS (por contraposição ao do PSD), apela ao voto dos abstencionistas e aos jovens. "Não acredito em treinadores de bancada que só vendem pessimismo". E isto, o que quer dizer?

Golo de Sócrates - Debate XXIII

Sócrates agora esteve bem: se o CDS crescer é à custa do PSD. Com a ferida aberta, ele foi lá mexer um bocadinho.

Paulo mete a faca no Pedro - Debate XXII

"Sócrates não é a única pessoa a dizer que não se pronuncia pelos cenários que não lhe são favoráveis". Paulo Portas não diz que vai estar em tudo ao lado do PSD (se perder). Mais uma facadita nas costas do Santana. E mostra mais um quadro, a dizer que com mais um por cento elege mais uns oito deputados: "O sonho da maioria absoluta do PS pode tornar-se uma ideia relativa". O que é que o senhor 10% fará se não chegar lá?
(É engraçado ouvir Portas acusar o PCP de ser contra a União Europeia)

Louçã namora com o do lado - Debate XXI

Francisco Louçã não tem a mínima dívida que o PS ganhe as eleições. É interessante assumir isto assim. "Chegaremos ao Governo quando tivermos votos para isso", diz. "Está em jogo a estabilidade política das políticas sociais". Lá está o namoro como camarada do lado, dizendo quais são as plíticas onde pode haver acordos.

Santana pela maioria - debate XX

Santana diz que o país exige uma votação forte no partido que ganhe as eleições. Sócrates agradece... Lopes diz que Governa na mesma, sem maioria (com o CDS). Pudera, só faltava dizer que se ia embora se não tivesse maioria absoluta.

Ai, ai, as coligações - Debate XIX

Sócrates volta a falar de um objectivo: a maioria absoluta. Também engoliu uma cassete, mas não ficou roufenho. Sim, e o Bloco, vais ou não vais com o Bloco? Ainda não respondeu, foge e foge, para não se comprometer. E ninguém lhe deita a mão, para ele ter mesmo de falar? Um plano B?, pergunta o jornalista. E deixa Sócrates fugir, que não responde.

O BE e a droga - Debate XVIII

"Só precisamos de aprender como que se faz bem no estrangeiro". Louçã cita o caso espanhol onde o Governo de direita introduziu as salas de chuto na prisões. Era interessante ouvir Santana sobre isto, porque tem uma posição mais heterodoxa e um dos seus melhores amigos é especialista no tema.

Portas lança os seus ministros - Debate XVII

Portas apresenta um esquema sobre a saúde e diz o que costuma dizer Maria José Nogueira Pinto, a cara do CDS para a Saúde. Aqui e ali vai atirando os nomes dos seus ministros.

A gravata guterrista de Sócrates - Debate XVI

Bem, a gravata de Sócrates é assim um bocado para o guterrista: não é preta, mas quando não lhe dá a luz até parece negra. Não está de luto, mas quem quiser pensar que sim até pode fazê-lo porque é tudo menos uma gravata festiva.

Francisco marca golo - Debate XV

Louçã diz que Santana aproveitou para fazer um telefonema para se informar porque não sabia sobre o assunto: 1-0.
Agora insinua que o Governo cedeu às pressões da banca e diz para Santana ir fazer outro telefonema. Genial. Só Portas faria melhor.
E Portas sabe tanto... não quis fazer qualquer réplica sobre o tema: o Santana que se enterre sozinho.

Santana responde a Louçã - Debate XIV

Santana foi estudar as perguntas de Louçã no intervalo sobre banca e fusões. É um exercício arriscado, dar estas respostas assim na hora. Está sempre mais sujeito aos tais erros das pessoas que o informam.
PSL debita números no afã de credibilizar o discurso. Não funciona. Ninguém percebe um gráfico falado.

A educação de Louçã - Debate XIII

Aquilo que o radical Louçã diz sobre educação também não é daquelas coisas que seja possível defender exactamente o contrário. Ele está a moderar-se... "A boa escola pública é decisiva para a criação de emprego". Isto é uma verdade que ninguém contestará.

Até que a voz lhe doa - Debate XII

Jerónimo saiu definitivamente. A voz não aguentou. É pena. O homem não merecia isto.
Olha agora a limpidez vocal de Louçã. Nisto só Portas o bate.

Intervalo

O debate foi para intevalo, e o espelho também.

Os sinos que badalam naquela cabeça - Debate XI

Os vitrais, azulejaria e restauro de sinos são algumas preocupação de formação profissional de Sanatana. Onde é que este homem vive, pá? Falou nos electricistas, vá lá.

A empregabilidade de Portas - Debate X

A proposta de Portas sobre a empregabilidade das escolas até faz sentido. Ligar o sistema de ensino ao número de postos de trabalho criados em cada área. Bem, as pessoas ficavam a saber pelo menos ao que iam.

Sócrates e la Palisse - debate IX

O que o PS não quer é aumentar o número de pré-reformas. Alguém seria capaz de defender o contrário?
Agora voltou a dizer algumas banalidades sobre educação que jamais alguém seria capaz de contradizer. Alguém é contra a redução do insucesso escolar para metade nos próximos quatro anos?

A clarificação de Portas - Debate VIII

Portas não é a favor do aumento da idade da reforma. Como é que a coligação negociou isto? É a piscadela de olho ao eleitorado tradicional?

Pormenores técnico-tácticos - o Debate VII

É curioso que Louçã e Portas sejam os mais semelhantes: discurso claro, com objectivos claros. Santana e Sócrates parecem abatidos e pouco entusiasmados com o facto de virem a ser, ou não, os próximos governantes. Têm falta de entusiasmo. Jerónimo está de rastos, mas a atitude do operário é heróica e humilde (isto vai dar-lhe votos).

Deus é o culpado pelo aumento da idade da reforma - o debate VI

Sanatana replica: defende mesmo o aumento progressivo da idade da reforma. É o que se fica a perceber, porque "graças a Deus a esperança média de vida aumentou".

Mais estudos socialistas - o Debate V

Sócrates promete mais um estudo sobre a segurança social, para depois decidir, se não for preciso fazer mais estudo nenhum.... "Não há qualquer indicação que a sustentabilidade da segurança social esteja em causa para amanhã", diz ele. Preocupemo-nos mais tarde. Por agora, antes dos estudos, o PS não vai mexer no limite da idade da reforma.

A nova coligação - o Debate IV

A coligação já está a funcionar: Sócrates a pedir a Santana para responder à questão de Louçã sobre a banca.

As gravatas - o Debate III

Santana está de gravata preta. Portas, depois de ter dado uma conferência de imprensa com o pescoço enlaçado de negro, agora leva uma gravata azul berrante. Passou-lhe o luto pela vidente. Não é suposto que estas coisas façam sentido.

E Jerónimo falou... o Debate II

Já retomou o lugar e a fala para defender os textêis portugueses, depois de ter sido assistido fora das quatro linhas. Jerónimo de Sousa teve azar. Uma lesão em campo é sempre um grande azar.

Junta a tua à nossa voz... - o Debate I

Campanhas de Inverno são complicadas para a garganta dos candidatos. O camarada Jerónimo acabou de perder o pio no debate da RTP. A cassete pifou. Não conseguiu falar. Perdeu a voz. Não tem voz para juntar à dos outros. Neste caso, recomendava-se um pouco mais de colectivismo: o camarada mexia a boca e um pequeno comité podia falar por ele. Até já.

A mão, o pote e o mel

No domingo, Santana disse: "O que eu tenho passado é porque toquei na ferida, meti a mão no pote de mel e saltaram as vespas. Conhecem algum primeiro-ministro que tenha dito aos senhores da banca: vão pagar mais do dobro do que antes pagavam?" No dia seguinte a esta edificante metáfora (ontem, com o cancelamento da campanha), Jardim Gonçalves, presidente do Millennium BCP foi recebido em São Bento. Ou um quis pedir desculpas. Ou o outro foi dar uma ferroada na mãozita que se lhe meteu pelo pote (vulgo puxão de orelhas, protesto veemente, etc.). Ou estamos a ver aquele filme cego do César Monteiro, sem imagens. Como coinciências destas não há, seria bom que alguém esclarecesse a que se deveu a tão urgente reunião.
Muitas das promessas de Sócrates (perdão, metas, objectivos) têm por detrás o pressuposto de um crescimento da economia ao ritmo de três por cento ao ano, admitiu o próprio na entrevista de ontem ao Público e à Renascença. Como esta base de sustentação das políticas do PS não depende do Governo, isto é excesso de optimismo ou de cautela. Quem criticou Santana por ter baseado o seu Orçamento do Estado de 2005 na premissa de um crescimento económico anual de 2,4% devia ter mais cuidado. No estado em que as coisas estão, falta a isto tudo um bocado de pessimismo ou de realismo, pelo menos para não sermos todos enganados.

12 fevereiro 2005

Espelho mau, espelho mau - XVI

É-lhe impossível existir sem inimigos. Sem poder manifestar-se contra. Agora é a comunicação social, tão útil em tantos momentos, tão utilizável, o maior dos seus adversários, porque não o leva ao colo. Pedro Santana Lopes apostou ontem na vitimização, mais uma vez menino guerreiro, num tom irritado que nunca se lhe tinha visto. Santana cria os seus próprios moinhos de vento, sem perceber que o seu maior inimigo vive dentro de si.

Santana Lopes, o incumbente, aquele que detém o poder, comporta-se como sempre se comportou: como um challenger, como um opositor, porque ele foi formado nessa escola, porque ele é só emoção, porque não consegue olhar para a política sem ser de forma adversarial. Foi adversário de Balsemão, de Cavaco, de Nogueira, de Marcelo, de Durão. É claro que é mais complicado ser-se adversário de si mesmo, mas através de uma análise mais profunda, um psicólogo explicaria melhor as tensões que vão no íntimo desta interessante criatura.

11 fevereiro 2005

Já tinha avisado uns bons posts abaixo que a campanha ia ser suja. o caso Sócrates/Freeport aí está para o demonstrar. O timming foi implacável. Esperemos pelos próximos "casos".

10 fevereiro 2005

Espelho mau, espelho mau - XV

O despudor chega a ser irritante. Depois de ter convidado os jornalistas para um café em São Bento porque ia fazer uma declaração que não fez, Santana Lopes disse ontem o seguinte: "Nunca vi adversários incomodados por outro, durante dois dias, não fazer campanha, no Carnaval". Se aparecer com os filhos à beira da piscina, passear pelos jardins da residência oficial não é campanha é o quê? A conversa com os jornalistas apenas sobre a campanha, na sede da chefia do Governo, se não é campanha é o quê?

08 fevereiro 2005

Espelho mau, espelho mau - XIV

Body Language. Em fuga do Carnaval, Santana esteve sentado hoje, em S. Bento, a falar com os jornalistas, inclinado para a frente, a gravata verde a cair-lhe pelas virilhas, recostado depois para trás de perna aberta, displicente, a ler um recorte de jornal com má dicção, extraordinário. A linguagem corporal do sr. Lopes não diz tudo sobre ele, mas revela muito. A maneira como o primeiro-ministro aparece ali relaxado na cadeira do poder, sem maximizar os respectivos símbolos - o que só reverteria a favor dele -, através de alguma solenidade e respeito, mostra quem é Santana Lopes. Um rapazola no corpo de um homem. Um imaturo à frente de um país a cair de maduro. Pior do que há vontade, à vontadinha. A política não está nada mais bonita...

Elogio do palavrão

"Há exclamações que laxam a alma, que a descarregam das opilações timpaníticas".

Camilo Castelo Branco escreveu esta frase n' A Corja (1880), continuação do romance Eusébio Macário (1879), depois de contar que o padre Justino tinha dito "uma palavra obscena, muito repreensível" pronunciada "carregando muito nos rr".

Ninguém surge do nevoeiro porque está um sol dos diabos

Ainda não li os programas dos partidos, mas tenho esperança que depois a esperança se me acenda. Andamos há dias nisto. Nem uma novidade sobre o futuro do país. Discute-se o destino com base na anunciada mudança de aristocracia partidária no poder; o que importa é saber se haverá maioria ou acordos parlamentares à esquerda. E o futuro? Isto somos todos nós atados por um fio invisível a seguir um carro alegórico onde cada dançarino quer convencer-nos de ser o melhor.

Retenho umas promessas vagas (os tais objectivos) de José Sócrates, mas não consigo entender o conjunto. O homem não se desvia um milímetro do discurso dos cartazes, não arrisca um rasgo sobre o que seja. Mau de prever, este destino próximo da nação, mesmo com um sol tão radioso e um ar político tão transparente (Santana é o que é e Sócrates também). Em Portugal, sem nevoeiro no horizonte, quando não estamos na presença de Sebastião nenhum, tudo é translúcido: como toda a gente vê o que está à sua frente, perde-se a esperança. O meu desejo? Que me fizessem acreditar. Não tanto num futuro radioso, mas num certo futuro. Naquele ali. Andam a querer comprar-nos o voto à borla sem se comprometerem com a paga. Tenho de ler os tais programas para depois não me esquecer de o cobrar.

06 fevereiro 2005

Irão: o alvo que se segue

O próximo alvo de Bush é o Irão, e o Pentágono já está a tratar da guerra. No discurso sobre o Estado da União, na quinta-feira, o Presidente americano disse: "Hoje o Irão é o principal promotor de terror no mundo, procurando armas nucleares e privando a população da liberdade que procura e merece". No dia seguinte, em Londres, a secretária de Estado, Concoleezza Rice, afirmou que um ataque dos EUA ao Irão "não está na agenda neste momento", deixando em aberto a existência de caminhos diplomáticos a explorar. Não está "neste momento". Estas subtilezas discursivas são de toda a importância.

Esta retórica faz lembrar a do Iraque. Quem já leu o livro de Bob Woodward, "Plan of Attack" sabe que um ou dois meses após o 11 de Setembro de 2001, Donald Rumsfeld já estava a trabalhar num plano para invadir o Iraque de forma rápida e barata. No entretanto, Bush dizia que não tinha planos de guerra em cima da secretária. Mas eles estavam na sua gaveta.

O mesmo acontece agora. Seria normal que os militares norte-americanos actualizassem os planos de contingência em relação ao Irão, nem que fosse por uma questão de planeamento rotineiro. Mas a história de Seymour M. Hersh - o mesmo jornalista que descobriu o escândalo de Abuh Grahib -, publicada na revista New Yorker, a 24 de Janeiro, é eloquente: "A administração tem estado a conduzir missões secretas de reconhecimento dentro do Irão pelo menos desde o último verão", escreve o repórter com base em fontes da CIA e do Pentágono. O objectivo destas acções, feitas à margem da fiscalização do Senado, é obter informações sobre potenciais alvos, como instalações nucleares, laboratórios químicos e locais lançamento de mísseis, com duas finalidades: ou um ataque rápido e preciso a estes alvos, ou uma invasão através do Iraque e do Afeganistão. Uma coisa é certa: os neoconservadores do Pentágono não querem cometer os mesmos erros de intelligence que deitaram a credibilidade da invasão do Iraque a perder.

Devemos estar preparados. Se a Europa não obtiver ganhos diplomáticos junto do Irão, o que não será fácil, Bush voltará a atacar. Ele já avisou. E desta vez até foi mais claro do que quando falou do "eixo do mal", noutro discurso que ficou famoso. Nessa altura não sabíamos, mas os planos para invadir o Iraque já estavam bem avançados.

Espelho mau, espelho mau - XIII

"Assim se vê, a força do ... PP!!" Esta bizarria soa mal. No comício do CDS, ontem, no Palácio de Cristal, no Porto, ouvimos o vice-presidente do CDS, António Pires de Lima, a gritar o velho slogan comunista ao microfone. Um partido conservador e anti-comunista como o de Paulo Portas devia evitar o uso das palavras de ordem dos seus maiores inimigos políticos. Portas já se deve ter esquecido de quando era cabeça de lista às europeias, em 1999, e dizia para a direita não votar no biógrafo de Álvaro Cunhal, Pacheco Pereira, líder da lista do PSD. Então por que há-de um cidadão ficar mais convencido a votar num PP que usa o verbo do PCP? Qualquer dia ouvimos Portas a dizer que "o povo unido jamais será vencido!!" Nunca se sabe...

O apelo de Nobre Guedes (na quinta-feira) à população de Coimbra para não deixar José Sócrates entrar na cidade, mostra o carácter anti-democrático do dirigente do CDS/PP. Basta raspar um pouco do verniz de cavalheiro inglês (como os amigos o qualificam), para aparecerem estes traços de intolerância política. Assim, não admira que usem slogans do PCP na campanha. Estão uns para os outros: os que cercaram o Palácio de Cristal há 30 anos e os que estavam lá dentro.
Recebi um panfleto do PDA (Partido Democrático do Atlântico) na minha caixa do correio onde é proibido depositar publicidade. "Somos o Centro Liberal, queremos eleger apenas 10 deputados", diz a propaganda do partido açoriano. O ridículo não mata...

04 fevereiro 2005

Debate: não errar é uma virtude que sabe a pouco

Quando as coisas andam tão mal na política, um debate onde nenhum dos candidatos comete um erro grave já é uma vitória. Mas que não deixa de ser anódina. Se o fiel da balança eleitoral vão ser os indecisos, então este frente-a-frente de pouco serviu: José Sócrates estava demasiado tenso e não explicou o "como" das suas principais propostas, mas teve um discurso mais objectivo; Santana Lopes não conseguiu passar a ideia de que tinha um programa articulado para o país - foram poucas as ideias que me ficaram na memória -, e embrulhou-se demasiadas vezes numa retórica pouco clara.

A clivagem esquerda/direita também esteve tão esbatida que Sócrates até teve de dizer "eu sou socialista" (faltou-lhe o "até"), enquanto Santana mostrou um liberalismo inesperado sobre questões civilizacionais, ao admitir a eutanásia em certos casos e o aprofundamento das leis das uniões de facto.

A maior surpresa do debate foi mesmo Santana Lopes: tendo em conta os últimos meses, o facto de não ter cometido qualquer deslize grave já foi muito positivo (apesar do contorcionismo na conversa dos colos). A contenção de Sócrates à espera que o adversário se espalhasse desta vez não funcionou. Santana, por mais gelatinoso que seja politicamente, ainda não esqueceu o que sabe de televisão.

03 fevereiro 2005

Espelho mau, espelho mau - XII

Pois ontem calhou-me na sorte receber um panfleto do CDS/PP com a fotografia do "competente" dr. Portas na caixa do correio onde ostento, bem visível, o autocolante criado pelo eng. Sócrates há uns anos "Publicidade aqui não! Obrigado". A competente brochura, com o Paulo (versão ministro responsável) fotografado de frente, gravata grossa de nó lasso e camisa azul, com casado de griffe por cima a compor, estava colocada por cima dos papelacos enfiados à má fila por outros prevaricadores do autocolante socrático: o papelito do Paulinho misturou-se ali com as publicitações de hambúrgueres do MacDonald's, com pizzas variadas, mas sobretudo com os anúncios sempre tão úteis de canalizadores e técnicos especializados no arranjo de esquentadores, cujos são de uma simpatia que junto enviam os respectivos telemóveis.

Ora eu, bem vistas as coisas, até já nem me irrito com o facto de me desrespeitarem o autocolante proibitivo, sobretudo se for para me darem de comer ou para me arranjarem os electrodomésticos. Mas o dr. Sacadura Cabral não se inclui em nenhuma destas categorias e não fornece o telefone, o que me deixa aflito se precisar de um conserto no frigorífico ou na máquina de lavar. Vou fazer queixa ao Instituto do Consumidor, alegando invasão de privacidade e coacção, com dolo, para consumir um determindo produto de plástico indigesto.

02 fevereiro 2005

O brasão da minha terra tem um javali gordo a saltar um ribeiro. Por causa desta imagem, símbolo de Grândola, passei a infância a sonhar com grandes montadas a esse animal tão extinto que nenhum velho se lembrava de alguma vez ter lá visto um. Este fim-de-semana, o filho do vizinho dos meus pais atropelou um javali na estrada, 90 quilos, bom porte, dentição afiada, pêlo de arame, um belo animal. Espatifou o carro, e só não se matou porque não calhou, aquilo foi uma sorte no duplo sentido. O meu pai, especialista alentejano no desmancho de porcos, lá foi de faca afiada talhar a carne do bicho. E eu, mesmo sem ter feito nada, trouxe para Lisboa um quinhão de febras e lombo, como se fosse uma matéria preciosa. Comer javali atropelado é uma forma pouco empolgante de satisfazer um sonho de criança: caçar um lá na serra, isso é que havia de ser uma aventura. Pelo menos agora não estão em vias de extinção. Tão misteriosamente como desapareceram, estão a tornar-se uma praga para os agricultores.
Vou inscrever-me na natação. Pediram-me, entre outras coisas, quatro fotografias. Mas esqueci-me de perguntar se são em fato de banho, com óculos e touca de natação, para me poderem reconhecer na piscina. É que se for assim, vai ser um pouco humilhante a caminhada até à máquina automática de fotografias tipo passe mais próxima.
Uma das personagens de Noites Brancas de Dostoiévski é uma rapariga que vive sozinha com uma avó cega. Esta, para controlar os movimentos da neta, prende o seu vestido ao dela com um alfinete e passam assim longas horas sentadas a tricotar e a ler alto, respectivamente. Isto serve de exemplo de como as limitações à liberdade podem ser tão fortes ou tão fracas como um alfinete (ou uma avó). E de como muitas vezes as restrições estão dependentes da aceitação tácita de quem é restringido.

01 fevereiro 2005

Previa, mas não desejava, que as coisas corressem pior nas eleições iraquianas. A taxa de participação dos iraquianos foi, por isso, uma surpresa agradável. Ainda não se conhecem os resultados, mas a legitimidade eleitoral poderá agora ajudar a refrear os grupos mais radicais.
As autoridades do Reino Unido retiraram do mercado um analgésico devido à taxa de suicídio anormal entre os utilizadores. Parece que não há prova mais radical de que o fármaco não conseguia acabar com a dor.
Há uma diferença evidente nas estratégias de pré-campanha de Pedro Santana Lopes e de José Sócrates. Santana Lopes, o candidato que mais precisaria de uma estratégia de credibilização, faz discursos brejeiros e José Sócrates encontra-se com líderes estrangeiros. Já se reuniu com José Luiz Zapatero, chefe de Governo espanhol, Martin Schulz, presidente do grupo do Partido dos Socialistas Europeus, Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, Gerhard Schroeder, chanceler alemão, e Lionel Jospin, antigo primeiro-ministro francês. Sócrates fortalece a sua própria credibilidade política e Santana ataca veladamente a credibilidade pessoal de Sócrates, destruindo simultaneamente a sua.